Cordel Umbilical: Carta de Idalzira para Joan

Joan meu querido filho
Recebi tua cartinha
Onde jogava pra fora
Toda angústia que tinha
Me fez tantos elogios
Só não me chamou rainha

Me chamou de vaidosa
Me chamou de egoísta
Só porque fui ao jornal
Para dar uma entrevista
Zombou da minha velhice
Sou velha mas sou artista

A velhice é coisa boa
Precisa se respeitar
Criei vocês com amor
Com amor devem pagar
Pois parte da minha herança
Reservei para te dar

O verso que me pediu
Eu fiz com todo respeito
Mas se você não gostou
Se não saiu do seu jeito
Peço para desculpar
Pois insulto eu não aceito

Parabenizei o Inácio
Da forma que merecia
Fiz votos para o Guilherme
No correr do dia a dia
Por favor você responda
O que é que mais queria?

Empreguei rima bonita
Em cada quadra que fiz
Nascimento de um filho
Faz sempre um casal feliz
Casamento sem ter filhos
É como árvore sem raiz

É comum se ter inveja
Quando nasce uma criança
Vocês ficaram com raiva
Mataram minha esperança
Para que trabalhar tanto
Sem ter a quem dar herança?

Diz que a casa é pequena
Dá somente para dois
Foi esta a sua desculpa
Que na carta me propôs
Depois pra me conformar
Disse os filhos vêm depois

Estava de mala arrumada
Já querendo viajar
Mas você me escreveu
Apenas para avisar
Que a casa era pequena
Pensei, assim não vai dar

Betinha me convidou
Mas fiquei encabulada
Porque você repetia
Que a casa era apertada
Mas pra Inácio e Chico Lopes
Ela serviu de pousada

Perdi minha esperança
De conhecer o Sobral
Lá só vai gente famosa
Da Assembléia Estadual
Mas eu só recebo crítica
Porque saí no jornal

Porém como sou humilde
Veja a minha recompensa
Deixo aqui o meu abraço
Muitos votos e minha benção
Aumente um pouquinho a casa
Pelo menos uma despensa

Cedro, 24 de junho de 2000