México: Investigação descarta versão sobre desaparecimento de jovens
O Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI) da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) apresentou neste domingo (6) na Cidade do México as conclusões de sua investigação sobre o desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa, ocorrido em 26 de setembro de 2014.
Publicado 07/09/2015 14:07

Para os investigadores, a versão do governo mexicano, de que os corpos dos jovens foram incinerados em um aterro sanitário na cidade de Cocula, é falsa. “Este evento, tal como foi descrito (pela Procuradoria Geral do México), não aconteceu”, declarou hoje o GIEI.
O grupo apresentou o "Informe Ayotzinapa", um relatório de 500 páginas com as conclusões dos seis meses de investigação sobre o ocorrido. Um especialista em fogo prestou consultoria ao grupo e concluiu que é impossível que os corpos dos estudantes tenham sido incinerados da maneira sustentada pela investigação oficial.
Jose Torero, da Universidade de Queenland, Austrália, afirma que, para incinerar os 43 corpos, seriam necessárias 13 toneladas de pneus, 20 toneladas de madeira e 13 toneladas de diesel, além de 60 horas de fogo ininterrupto. “Não há evidências de que tenha havido uma fogueira do tamanho necessário para a cremação de um só corpo”, diz o especialista.
O GIEI sugere uma nova linha de investigação, relacionada aos ônibus “tomados” pelos estudantes para a viagem de Iguala à Cidade do México. Os especialistas salientam não ter todos os indícios para confirmar a suspeita, mas dizem acreditar que os estudantes interferiram, sem saber, no transporte de drogas que estariam escondidas dentro de um dos ônibus.
Segundo o GIEI, as autoridades têm informações sobre o uso de ônibus no tráfico de heroína, cocaína e dinheiro entre as cidades de Iguala e Chilpancingo. “O negócio que move a cidade de Iguala poderia explicar a reação extremamente violenta e o caráter massivo do ataque”, escreve o grupo no relatório.
Segundo o jornal mexicano La Jornada, o documento é um duro golpe no presidente Enrique Peña Nieto, que em janeiro sustentou que havia conseguido chegar à “verdade histórica” sobre o evento.
O então procurador Jesús Murillo disse naquele momento que os 43 estudantes tinham sido detidos por policiais militares e entregues a um grupo de traficantes, que os matou, queimou os corpos e jogou as cinzas em um rio da região.
Até hoje, só se tem certeza da morte de um entre os 43 desaparecidos. Os especialistas destacam que o destino dos estudantes é incerto e recomendam que o governo mexicano reabra o caso, repense suas linhas de investigação e siga procurando pelos jovens.