L'Humanité: "Que mundo desumano estamos construindo?"
Diante do que chamamos o drama dos migrantes, na realidade o drama de centenas de milhares de refugiados que fogem da guerra, do caos, e da miséria, nossa raiva e nossa emoção são imensas. Para os comunistas, o mais urgente neste momento é a solidariedade e o dever de acolher.
Por Pierre Laurent*, no L'Humanité
Publicado 08/09/2015 20:17

Nestes últimos meses, muitas vezes fomos os únicos entre as formações políticas a combater os discursos cheios de egoísmo e de ódio, exigindo a mudança na política da França e da Europa.
Alertamos desde a visita aos campos de refugiados próximo de Kobane, sobre a difícil situação de milhares de refugiados, amontoados nesses campos sem nenhuma ajuda internacional.
Nossos apelos foram ignorados. Denunciamos há meses a construção de muros, fortalezas, paredes físicas e barreiras que subsistem na mente, em torno de toda a Europa, um perigoso coquetel feito de ódio e de arames farpados.
Não paramos de nos perguntar: Que mundo desumano estamos construindo?
Enfim, graças ao empenho cívico diante da insustentável situação, graças às iniciativas de várias forças democráticas da Europa, graças ao empenho do papa e da mudança na postura de alguns Estados Europeus, estão se abrindo as travas do egoísmo.
Saudamos o despertar das consciências e todos aqueles e aquelas que são seus construtores. O tempo já foi demasiado, perdemos muitas vidas humanas: 29 mil mortos no Mediterrâneo e nos portos da Europa.
Neste momento, a França deve se envolver com atos e não somente com palavras. Nós pedimos que nosso país:
– Estabeleça dispositivos de apoio médico-social, crie caminhos para a inserção profissional e para a escolarização das crianças dentro do respeito aos direitos da criança definidos pela convenção da ONU.
– Apoie a criação das redes de cidades solidárias lançadas pela prefeitura de Barcelona e as cidades francesas que se comprometam com a causa.
– Apresente uma revisão das políticas de visto da União Europeia e solicite a revogação do “Regulamento de Dublin”.
– Prover novos meios para a Frontex, (Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-Membros da União Europeia) assegurar uma acolhida digna dos migrantes, viabilizando caminhos mais seguros.
Os representantes comunistas, as cidades sob direção comunista que têm grande tradição de receber refugiados e migrantes e que já tomaram várias iniciativas nestes últimos meses, se comprometem com ainda mais força, neste dever de solidariedade, partilhando suas experiências.
Conclamo todos os comunistas franceses, a participar de todas as iniciativas cidadãs, locais, departamentais, regionais, nacionais e internacionais de solidariedade.
A festa de “l’Humanité” se anuncia como um grande momento de mobilização.
Exigimos igualmente que a França pare de alimentar as lógicas de guerra que são a origem dos terríveis dramas e do caos de que fogem os refugiados. A França parece estar, numa nova escalada de perda de qualquer autoridade na ONU, enquanto permanecer calada diante da repressão do governo de Erdogan contra os curdos. A França precisa urgentemente tomar iniciativas para buscar soluções de paz em toda região.
A França, que tem responsabilidade na desestabilização da Líbia e nas engrenagens de guerra na região, deve mudar a natureza e o objetivo de seus compromissos.
O 21 de setembro é o dia mundial da paz. Neste dia, chamamos à fazer um grande dia de ações e de mobilização pela paz, pela solidariedade e pelo acolhimento dos refugiados na França, nosso país.