Beth Carvalho comemora 50 anos de carreira com show-tributo
Túnel Rebouças. É com o nome da via que liga a Zona Sul à Zona Norte do Rio de Janeiro que Beth Carvalho é conhecida pelos mais íntimos do mundo do samba. O motivo? Cresceu no perímetro abastado da cidade, mas batia ponto no subúrbio em nome do baticumbum que hoje lhe dá o título de madrinha.
Publicado 26/09/2015 15:38
Cinquenta anos se passaram desde então. Amante da festa do momo, Beth continua sendo mangueirense roxa, mas não nega desentendimentos com a antiga diretoria da agremiação verde e rosa.
Ainda ostenta quadros de Che Guevara e Fidel Castro em sua casa porque o socialismo “pode salvar a humanidade”. Beth votou em Dilma Rousseff no último pleito, acha Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados, um tirano; e é contra a redução da maioridade penal.
A comemoração de suas cinco décadas de música será neste sábado (26), no Citibank Hall da capital carioca às 22h30.
Confira na íntegra a entrevista ao portal Heloisa Tolipan:
HT: Qual foi o melhor momento desses 50 anos de carreira?
BC: Tenho lembranças e passagens incríveis, mas o melhor momento é o agora. Completar 50 anos de carreira é uma dádiva.
E o pior?
Não existe pior. Tive uma carreira abençoada, com percalços como qualquer trajetória, mas em um balanço geral só tenho momentos memoráveis.
Em 2007, a senhora disse que não tinha vontade nenhuma de desfilar mais na Estação Primeira de Mangueira. Em 2012, voltou homenageada no enredo sobre o Cacique de Ramos. O que aconteceu nesses cinco anos?
Sou Mangueira até morrer. Nunca houve desentendimento com a comunidade da Mangueira. O problema foi com meia dúzia, mas diretoria passa e a Mangueira fica. Trago comigo minha relação com Cartola, com Nelson Cavaquinho, além de todos os anos desfilados, desde 1972.
Podemos esperar a senhora na avenida no próximo ano?
Gostaria de homenagear a [Maria] Bethânia [tema do enredo assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira], mas vamos ver se vai dar.
A prefeitura do Rio, no mandato do Eduardo Paes, voltou a dar mais respaldo aos blocos de rua durante o carnaval. Eles receberam atenção, alguns foram ampliados e novos chegaram na cena. Já não era sem tempo, né?
Acho que os blocos merecem este respaldo. O carnaval na avenida é turístico e caro, os blocos são – e deveriam se manter como – uma opção popular e democrática. Já gravei os sambas do[s blocos] “Simpatia é Quase Amor” e do “Suvaco do Cristo”.
O que ainda falta ser feito?
O que acho que deveria ser feito, mas aí deve partir dos próprios blocos, é incentivar o folião a se fantasiar. Não gosto da ideia de bloco uniformizado, sou contra. A fantasia é a alma do carnaval de rua.
O samba deixou de ser machista?
Embora a maioria dos sambistas seja homem, o papel da mulher é forte. Depois de mim, Clara Nunes e Alcione, as coisas melhoraram.
Como a senhora atua no empoderamento e na abertura para mulheres invadirem o gênero?
Eu mesma sou madrinha de muitos homens! Na história do samba é possível perceber o quanto ele é matriarcal.Dona Vicentina, dona Neuma, dona Zica, Tia Surica, sempre comandaram os bastidores da história.
O samba é ritmo oriundo dos morros e a senhora veio da Zona Sul. Teve empecilhos para se juntar àquela turma?
Cresci na Zona Sul, mas frequentei muito o subúrbio com a minha mãe. Pegávamos o trem e íamos visitar algumas amigas dela. Já fui até apelidada de Túnel Rebouças, justamente por unir os dois universos. O samba ultrapassa qualquer tipo de fronteiras e eu sempre o vivi integralmente, onde quer que fosse. Por isso, não só fui aceita como faço parte da história.
Quem dá nova geração do samba te chama atenção?
Citaria alguns nomes como Pedro Miranda, Teresa Cristina, Grupo Semente, Léo Russo, Moisés Marques, Alfredo Del-Penho, Luiza Dionisio, Lu vieira e Késia.
A senhora foi amiga do [Leonel] Brizola [ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul] e vice-presidente de honra do PDT. Como vê o envolvimento do Partido dos Trabalhadores na Operação Lava Jato?
Faz parte do golpe da direita.
E Dilma? É a favor ou contra o impeachment?
Tal movimento está em dissonância absoluta com os meus posicionamentos políticos. Para que fique bem claro, eu, Beth Carvalho sempre me posicionei ao lado de líderes como Che Guevara, Fidel Castro, Hugo Chavez, Leonel Brizola, João Pedro Stédil, Lula. Para completar a dissonância, os maiores mestres culturais da minha vida são em sua maioria negros e pobres – Nelson Cavaquinho, Cartola, Candeia. Além disso, não tolero a homofobia que vem sendo explicitada nestas passeatas.
E Eduardo Cunha? Acha ele um tirano?
Sim, acho um tirano!
Em quem votou na última eleição?
Todos sabem meu posicionamento político. Votei na Dilma, entre muitos fatores, por ela ser uma mulher com uma história política admirável.
A senhora ainda tem quadros de Che Guevara e Fidel Castro em sua casa? Continua defendendo o socialismo?
Eu acredito no modelo socialista como o único que pode salvar a humanidade. O que é capitalismo? É muito para poucos e pouco para muitos. O socialismo é o contrário: é muito para muitos. Não tem outro. Ideais e posicionamentos verdadeiros não se transformam com o tempo. Ao contrário, a maturidade nos serve para reforçar aquilo que somos e aquilo que pensamos.
É a favor da redução da maioridade penal?
Sou contra.
E a coluna da senhora? Tudo certo como deve ser? Sem dores?
Por que falar de dor quando comemoro 50 anos de carreira? Estou aqui, viva, feliz, podendo comemorar da melhor forma possível: no palco. Com dor ou sem, como dizem os versos: “o show tem que continuar!”. Aguardo todos vocês dia 26, no Citibank Hall, às 22h30.
Ouça algumas canções de Beth Carvalho: