PC português viabilizará governo com socialistas para alijar direita

Em reunião realizada nesta quarta-feira (7) em Lisboa, entre os líderes do Partido Comunista Português e do Socialista – Jerónimo de Sousa e António Costa, respectivamente –, ficou aberta a possibilidade dos comunistas apoiarem um governo de esquerda, alijando a direita do poder, após as eleições do último domingo (4), em que os partidos de esquerda (PS, PCP e BE) dominaram os resultados.

António Costa e Jerónimo de Sousa reunidos na sede do PCP em Lisboa

Para Jerónimo de Sousa, a derrota da direita “permite a base para outras soluções governativas” e a maioria de esquerda é “uma oportunidade que seria incompreensível que se desperdiçasse”.

Cabe ao PS, diz Jerónimo, “escolher entre PSD e CDS ou tomar iniciativa para formar governo”. Nesse caso, Jerónimo assume a disponibilidade dos comunistas para “viabilizarem um Executivo socialista” e não colocou como condição a participação do PCP em cargos executivos.

PS e PCP estão de acordo sobre o fato de os eleitores terem “expressado a vontade de uma alternativa política” e concordam que “a direita perdeu a maioria absoluta”. A vontade de encontrar “uma expressão institucional” do novo quadro parlamentar saído das legislativas é agora a grande questão.

António Costa não tem dúvidas. “As divergências são conhecidas” entre comunistas e socialistas, mas o apelo agora é para se focar nos “pontos de convergência importantes” que o PS encontrou na reunião de hora e meia no quartel-general comunista.

Segundo o líder do PCP, trata-se de “impedir que se repita” o novo governo PSD/CDS. Ele disse que PS e PCP convergiram na avaliação de que os resultados das eleições traduziram a vontade da maioria do povo português em não querer “este governo e esta política”.

“Rejeitaremos qualquer moção de censura vinda” do PSD ou do CDS contra um governo liderado pelo PS, assegurou o secretário-geral comunista.

“Conhecendo o programa do PS, admitimos discutir as questões do programa do governo” liderado pelos socialistas, apesar do que consta dos respectivos programas partidários, frisou Jerónimo de Sousa.

O PCP, em sua página na internet, afirma que “é intolerável que, perante a segunda maior derrota eleitoral de sempre desses dois partidos e ignorando a condenação política que sofreram com a perda de 700 mil votos, o presidente da República, à margem das regras da Constituição, queira impor a renovação de um governo PSD/CDS”.

“Da parte do PCP, reafirmamos a nossa firme disposição de apresentar uma moção de rejeição do programa do governo PSD/CDS, caso venha a ser presente na Assembleia da República.”

“O pronunciamento do povo português nas eleições legislativas é uma clara condenação do governo e também da sua política. O resultado eleitoral confirma não só o objetivo de impedir a continuação do governo PSD/CDS mas também a aspiração do povo português a uma política alternativa que dê resposta aos problemas concretos dos trabalhadores e do povo, do emprego, dos salários, das pensões, do acesso à saúde e à educação, do desenvolvimento e da soberania.”