Síria e Oriente Médio: preservar a integridade e unidade territorial

A situação internacional está cada vez mais complexa e perigosa e exige cada vez mais das forças que lutam contra a ofensiva imperialista, pelo progresso, a justiça social, a democracia, a soberania, a cooperação internacional e a paz.

Por Ângelo Alves, no Jornal Avante

Bandeira do Estado Islâmico reduzida a trapo após ataques

Mas, simultaneamente, os desenvolvimentos tornam mais visíveis as grandes contradições do capitalismo e o complexo processo de rearrumação de forças no plano internacional e retiram campo à propaganda imperialista que sempre acompanha os seus planos de domínio por via do militarismo, da redivisão de várias regiões, do intervencionismo e da guerra.

A situação no Oriente Médio está a demonstrar exatamente isso. A Força Aérea russa está há vários dias a realizar raides visando alvos de organizações terroristas como o ISIS (auto denominado Estado Islâmico) e a Al Nusra (o ramo da Al Qaeda na Síria). Esta ação militar é realizada a pedido do governo sírio e coordenada com as forças armadas daquele país. Outros países da região, como o Irã e o próprio Iraque, apoiam esta ação militar, como afirmado pelo presidente sírio Bashar Al-Assad.

Os desenvolvimentos indicam que a ação militar da Federação Russa e das forças sírias está a surtir efeitos. Ao momento da redação deste artigo e após poucos dias de raides aéreos, as notícias disponíveis dão conta da deserção e fuga de cerca de 600 combatentes do “Estado Islâmico” e da “Al Nusra”, bem como da destruição de importantes alvos estratégicos como paióis e outros depósitos de material militar, de grandes quantidades de veículos militares e de um importante centro de comando do ISIS. Estes dados, correspondentes a menos de uma semana de operações, contrastam com o balanço de mais de um ano de uma dita “luta contra o terrorismo” levada a cabo pelos EUA e seus aliados, sem a autorização do governo sírio, e que se saldou numa expansão geográfica do “Estado Islâmico” e num ainda maior caos, quer na Síria, quer no Iraque.

As reações dos EUA, da União Europeia e da Otan não se fizeram esperar. Se o “combate ao terrorismo” dos EUA foi no passado saudado e apoiado pelo “Ocidente”, já o combate ao terrorismo em curso, realizado dentro da legalidade internacional – porque a pedido das autoridades sírias – suscita uma reação dos EUA e seus aliados que demonstra que o seu objetivo não é combater o terrorismo mas sim operar uma “mudança de regime” na Síria em tudo similar às levadas a cabo em países como o Iraque ou a Líbia, cujas consequências estão à vista. Daí as declarações de Obama que se podem resumir numa ideia: o objetivo central não é combater aquelas organizações terroristas mas utilizá-las para derrubar o governo sírio e vergar aquele país aos interesses e planos do imperialismo norte-americano.

A hipocrisia já não consegue esconder o que de fato pretendem os EUA e a Otan tal como não consegue esconder o seu papel na desestabilização da Síria. Tal fato é bem demonstrado pelas “acusações” veiculadas nos meios de mídia ocidentais de que a Federação Russa estará a “bombardear fações que atuam sob o ‘chapéu’ do Exército Livre da Síria, apoiado pelo Ocidente, incluindo combatentes treinados pela CIA”. Uma “acusação” que é a mais brilhante confissão daquilo que há muito dizemos, ou seja, de que o conflito sírio foi decidido, criado e alimentado pelo imperialismo norte-americano e seus aliados e que as organizações de mercenários e terroristas que espalham a destruição e o caos naquele país são financiadas, armadas e treinadas pelas potências da Otan, a Arábia Saudita, o Qatar e a Turquia.

Estes recentes desenvolvimentos têm uma importância central nos desenvolvimentos na situação no Oriente Médio. Preservar a integridade e unidade territorial síria, derrotar a lógica da violência sectária e travar os planos do imperialismo de redivisão do Oriente Médio é de vital importância para o povo sírio e para todos os povos da região. E é exatamente por isso que os EUA criticam a ação da Federação Russa e com a União Europeia tentam criar “casos” como o da suposta “violação do espaço aéreo turco” e se preparam para ações ofensivas como uma zona de exclusão aérea em território sírio.