Avós da Praça de Maio recuperam “neta 117”

Chamada de “neta 117” na busca das Avós da Praça de Maio pelas crianças separadas de seus pais durante a ditadura militar argentina, Claudia Dominguez Castro reencontrou suas avós biológicas na última sexta-feira (16). Apesar de sempre saber que era adotada, ela acreditava que a possibilidade de ser filha de desaparecidos políticos era “pequena, porém não impossível”.

Claudia Dominguez Castro Avós da Praça de Maio - Telám

Este já é o 117º reencontro conquistado pelas Avós da Praça de Mayo, cuja missão é encontrar, no total, 500 crianças que foram roubadas durante a ditadura militar argentina (1976-1983). Os presos políticos tinham seus filhos sequestrados, ou nascidos em cativeiros e os militares os entregavam ilegalmente para a adoção.

“Meus pais adotivos sempre me disseram a verdade, mas somente o ano de meu nascimento me fazia suspeitar que meus pais biológicos poderiam estar entre os desaparecidos. Por isso a dúvida sempre existiu, porém sem alinhamento relacionado ao terrorismo do Estado. Só o ano de nascimento me gerava dúvida neste sentido. A possibilidade era pequena, porém não impossível”, disse Cláudia em um coletiva de imprensa, depois de contar que quando, no mês de julho, o Banco de Dados Genéticos passou por Mendoza, cidade onde reside, ela decidiu fazer a análise.
Cláudia é casada, vive na mesma cidade de uma de suas avós biológicas e é mãe de três filhos, de 1, 6 e 9 anos. Ela disse que está “muito emocionada” nos últimos dias. Ela se encontrou com as avós Maria Assof Dominguez , presidenta das Mães de Maio de Mendoza e reconhecida ativista em defesa dos direitos humanos, e Angelina Catterino de Castro.

As avós paterna, Maria Dominguez, e materna, Angelina Castro, de Claudia já tinham anunciado em setembro que haviam recuperado a neta, depois de 37 anos de busca, mas o encontro com Cláudia não foi imediato e a identidade dela só foi revelada um mês e meio depois, para proteger sua intimidade. Claudia diz que a primeira sensação, ao descobrir que era filha de desaparecidos, foi de “choque”. E que precisava de tempo para contar aos filhos que ela tinha “quatro pais” – e que soube da existência de dois deles agora. Em compensação, as crianças iriam conhecer duas bisavós, que dedicaram a vida à busca da neta perdida.

Angelina disse que o encontro é uma emoção tão grande que não pode descrever, “depois de esperar encontrar a neta em todo momento por 37 anos”. Maria criticou, com dor e lágrimas, “toda a dor que causaram esses assassinos” e pediu “que todos vejam o dano que lhes causaram”. “Que necessidade ela tem de estar vivendo tudo isto agora? Se eles tivessem tido a generosidade de a menos leva-la novamente para a casa de seus familiares, com fizeram em alguns casos … É um dano muito grande que causaram estes assassinos”, disse Maria.

Os pais biológicos de Cláudia militavam no Partido Comunista Marxista Leninista (PCML), até que, em 9 de dezembro de 1977, foram sequestrados por militares na casa em que viviam em Godoy Cruz, localizada na província de Mendoza.

Um comunidado emitido pelas Avós da Praça de Maio pediu à imprensa que “ao existir uma causa judicial em trâmite na Justiça Federal, não se indague sobre a vida prévia da neta recuperada e respeite sua privacidade”.

Ao conhecer o resultado dos exames de DNA, Claudia entrou em contato com as avós, a quem conheceu poucos dias depois e, a partir daí, foi entrando em contato com os demais parentes pessoalmente ou por meio das redes sociais. Ao ver as fotos de seus pais biológicos, ela disse que se reconheceu fisicamente e também em alguns gestos e gostos pessoais, como a pintura e tocar violão.