Audiência pede garantias para refugiados na nova Lei de Migração 

Em mais uma audiência pública realizada pela comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa o projeto da nova Lei de Migração, nesta quarta-feira (28), especialistas sugeriram que a proposta inclua garantias para refugiados. O chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados no Brasil (Acnur), Gabriel Godoy, disse que o enfoque da proposta é a garantia de direitos, o que representa uma evolução à lei atual (Estatuto do Estrangeiro), que criminaliza os imigrantes. 

Audiência destaca garantias para refugiados na nova Lei de Migração - Agência Câmara

Godoy sugeriu aprimoramentos no texto para refugiados e apátridas, aqueles que não são considerados nacionais de nenhum país. "Sugerimos que o Comitê Nacional para Refugiados seja o órgão da administração brasileira a fazer essa atividade de proteção e garanta que essa população tenha acesso facilitado à naturalização”, disse o representante da ONU.

“Já não se fala mais de criminalização da circulação indocumentada ou irregular, até porque, no caso dos refugiados, o ingresso indocumentado ou com documento falso é a única maneira de se deixar uma zona de conflito. É o que estamos vendo com muitos refugiados sírios que têm buscado o Brasil para reconstruir suas vidas", declarou.

O relator da proposta, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), reforçou sua proposta de reposicionar o Brasil diante do cenário mundial com uma lei moderna e inclusiva. “Temos que ter uma lei que permita, por um lado, combater qualquer tipo de xenofobia, intolerância e preconceito, e por outro, que favoreça as trocas de conhecimento, a criatividade e o desenvolvimento do nosso país. A comissão está empenhada em colaborar para a construção de uma lei moderna e que possa ser exemplo para o mundo”, garantiu.

Perspectiva solidária

O procurador federal dos direitos do cidadão Aurélio Rios, que também participou do evento, considerou a proposta adequada a tratados internacionais assinados pelo Brasil. De acordo com Rios, a crise migratória mundial mostra que o País deve adotar uma perspectiva mais solidária em sua política.

Ele também criticou os artigos que restringem direitos dos imigrantes, afirmando que ferem o princípio da não discriminação. "Não se pode fazer diferenciação entre os que já estão documentados e os que estão em processo de legalização", disse.

Rios sugeriu que os dispositivos relacionados à extradição sejam retirados do projeto. "A nossa ideia sempre foi a de descriminalizar a migração. Não dá para misturar as coisas, não devemos trazer esses aspectos para esse projeto", alegou.

Direitos trabalhistas

O defensor público de São Paulo Daniel Chiaretti, integrante do serviço de atendimento ao imigrante, também sugeriu a exclusão de artigos que restringem o acesso à Justiça e a direitos trabalhistas dos imigrantes ainda não regularizados.

"A classificação de imigrantes indocumentados como ilegais, retirando deles uma série de direitos, funda-se na ideia do estrangeiro como inimigo, como alguém que está colocando em risco valores fundamentais do Estado. Mas, em geral, esses temores são infundados. A ideia de que estrangeiros cometem crimes no Brasil ou que vêm aqui roubar empregos são todas questões que empiricamente têm sido afastadas ", disse Chiaretti.

O representante do Ministério da Justiça na audiência, João Granja, ressaltou a importância de conhecer os migrantes que chegam ao País. "Para que tenham acesso às políticas públicas, é essencial que estejam documentados", lembrou.

A presidente da comissão especial que analisa o projeto, deputada Bruna Furlan (PSDB-SP), quer votar a proposta no colegiado até o final do ano. O projeto já foi aprovado pelo Senado e, depois de passar pela comissão, seguirá para o Plenário da Câmara.