Movimento contra fechamento de escolas de SP ganha apoio pelo país
O movimento dos estudantes contra a reorganização do ensino imposta pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) já contabiliza 83 escolas ocupadas. E o número só faz crescer, por conta da intransigência da gestão. A iniciativa da juventude que resiste ao desmonte educacional tucano tem recebido apoio de dentro e de fora do estado. O governo pretende separar os estudantes por ciclos e fechar 93 escolas, ao que vai interferir na rotina de pelo menos 311 mil alunos.
Publicado 21/11/2015 16:55
À medida que as ocupações aumentam em todo o estado, os alunos começam a receber a solidariedade de várias partes do país e até mesmo do exterior. Portugal, Curdistão, Uberlândia (MG), Passo Fundo (RS) e Rio de Janeiro são algumas das localidades que enviaram apoio. Na página Não Fechem Minha Escola, no Facebook, os organizadores postam vídeos e fotos dos incentivadores.
Os vídeos postados têm milhares de acessos, como o enviado pelos alunos da Escola Estadual José Lopez Leite, do Rio de Janeiro, em que ressaltam que o bem "público" é de cada um e de todo mundo. Enumeram as perdas para a comunidade quando uma escola é fechada: "A gente perde história, relações, momentos, estrutura, amigos, amores, conhecimento, beijo na boca, o agora, o futuro, a chance de poder se deslocar". Os alunos aproveitam e mandam um aviso: "Se fecharem a nossa escola, a gente ocupa".
E a solidariedade vem também de outras formas. Durante a tarde dessa sexta, militantes do MST percorreram a cidade de São Paulo para doar cerca de 1000 litros de leite, 500 litros de suco de uva e 1000 caixas do achocolatado para os estudantes.
De acordo com a direção do Movimento, "é importante apoiar a organização social autônoma dos estudantes que, nesse momento, dá uma aula de consciência e mobilização na luta pelo direito à educação, que é uma bandeira de toda sociedade. Nesse sentido, toda solidariedade é necessária", diz o MST, em seu site.
Os Sem Terra explicam que concentraram as doações em escolas das periferias da cidade, "onde a necessidade de apoio e visibilidade é maior, bem como a repressão por parte da Polícia Militar do Estado".
Uma campanha na internet também incentiva a doação de aulas e oficinas para os alunos que ocupam as escolas de São Paulo. Só nas primeiras oito horas da campanha, no último dia 19, mais de 1.300 voluntários já haviam se cadastrado para lecionar alguma atividade educativa.
Resistência e zelo
Na página Não Fechem Minha Escola, no Facebook, os jovens também mostram a rotina das ocupações, os cuidados que têm com as unidades de ensino, bem como denunciam a atuação da polícia, violenta em alguns casos.
"Rolando agora um almoço comunitário no Caetano de Campos da Aclimação. Aqui é assim, muita disposição pra cumprir todas as tarefas e ainda receber os pais, professores e a comunidade pra conhecer como a gente se organiza. Não tem nada de bagunça, muita disciplina pra organizar, limpar e manter a segurança numa escola tão gigante", relata Angela Meyer, presidenta da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), neste sábado, no Facebook.
A presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila Lanes, ressaltou o cuidado que os alunos estão tendo com as unidades de ensino. "Sinceramente, tem ocupação que administra melhor a escola que a própria gestão eleita. Nós limpamos, tutelados em prol da comunidade, aulas públicas, aulas temáticas, horários para comer e dormir, lazer, unidade e respeito. Por isso, respeita os secundas!", escreveu na rede social.
O estudante do 2º ano do Ensino Médio Jorge Chaves, 16 anos, da Escola Senador Galeão Carvalhal, em Santo André, criticou, em entrevista ao Diario do Grande ABC, a falta de diálogo do governo com a comunidade escolar. “Não vamos desocupar [a escola] até que seja aberto um diálogo e que consigamos o que estamos reivindicando, que é a não reorganização. Não ouviram alunos, professores e pais. Não teve democracia nessa decisão e estamos lutando contra isso”.
Na segunda (23), haverá nova audiência de conciliação entre o governo do estado e os representantes dos estudantes no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Na primeira tentativa, na quinta-feira (19), não houve acordo. Os alunos querem o cancelamento imediato da reorganização e a discussão das medidas durante todo o ano de 2016. O secretário da Educação, Herman Voorwald, não aceitou a proposta.
Mídia
O movimento dos estudantes tem chamado a atenção inclusive da imprensa internacional. Na terça-feira, a Telesur chamou de massiva a ocupação dos estudantes brasileiros, contra o agravamento da superlotação das salas.
O espanhol El Diário, meio digital de informação e análise de política e economia, publicou na quarta extensa reportagem mostrando a surpreendente ocupação das escolas, o protagonismo e autonomia dos estudantes e as semelhanças entre manifestos de estudantes chilenos e espanhóis.
As manifestações foram mostradas também na revista eletrônica britânica Dazed, que, com muitas imagens e um vídeo, deu ênfase à presença da polícia nas escolas.