Bresser defende Dilma: "Golpismo liberal é algo antigo no Brasil"

Em texto publicado em sua página no Facebook, o economista e ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira defende a presidenta Dilma Rousseff, afirmando que impeachment de uma governante que não cometeu crimes equivaleria, sim, a um golpe, "uma violência à democracia". Em suas postagens, ele diz que o processo não tem base jurídica e pode dificultar ainda mais a saída da recessão. 

Bresser-Pereira

"A oposição liberal, liderada por Aécio Neves, embarcou feliz no barco podre de Eduardo Cunha. O golpismo liberal, sempre que o governo não se submete estritamente aos interesses dos ricos, é algo antigo", avalia Bresser-Pereira, um dos fundadores do PSDB. 

Em nota publicada ainda na última quinta (3), o economista avaliou que o PT optou por não se submeter à chantagem do presidente da Câmara dos Deputados e "a presidente deu uma resposta indignada e altiva a tanta canalhice". Bresser-Pereira cobrou, na ocasião, que "o Congresso termine logo o julgamento desse processo sem base jurídica, mas que dificultará ainda mais a saída do país da recessão, para que a presidente possa governar".

Neste domingo (6), em nova postagem, ele criticou a oposição, que tenta protelar o desenrolar do processo, na tentativa de conseguir convencer a opinião pública e o parlamento a aderirem à investida golpista. "Pouco lhe importa que isto seja manifestação de falta de responsabilidade cívica", condena. Bresser-Pereira foi ministro da Fazenda de José Sarney e de Ciência e Tecnologia durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

"Perguntam-me os os liberais: 'mas por que um impeachment eventualmente decidido pelo parlamento equivale a um golpe de Estado?' Porque o impeachment só se justifica quando há crime. Ora, todos sabemos que a presidente não cometeu crime algum. (…) As "pedaladas" são uma irregularidade, mas definitivamente não implicam crime", opina.

O economista rechaça a ideia que a oposição tenta vender de que, com a saída de Dilma, a situação do país melhoraria. "Não creio, mas mesmo que isso fosse verdade, o impeachment continuaria a ser uma violência à democracia. A justificativa de todos os impeachments sempre é a promessa de um governo melhor", afirma.

Bresser-Pereira também desconstrói o discurso dos adversários de Dilma que a acusam de tre preticado um estelionato eleitoral. "Ora, se fosse verdade que a presidente cometeu esse erro, essa não seria uma razão para afastá-la. Na verdade, ela não cometeu qualquer estelionato. Em outubro do ano passado, quando ela prometeu continuar com a política de expansão fiscal, nem ela nem ninguém tinha a menor ideia da forte recessão que vinha vindo. Em nenhum momento a oposição ou economistas independentes manifestaram sequer temor que isto acontecesse", escreve.

Em entrevista a O Estado de S.Paulo, também neste domingo, o economista defende que o processo de impeachment já nasceu morto. "Primeiro, em relação ao impeachment, eu acho que ele nasce morto. Já sabíamos que ele não tinha base jurídica razoável. A presidente tem muitos defeitos e dificuldades, mas não cometeu crime nenhum. É uma mulher de alta dignidade. Esse pedido de impeachment nasce de uma chantagem feita pelo Eduardo Cunha e, portanto, é moralmente muito prejudicado. Segundo, eu nunca acreditei que o impeachment viesse a acontecer", observa.

Para o ex-ministro, Dilma vai superar o momento atual e sair mais fortalecida para voltar a governar. "A crise foi agravada quando, diante da baixa popularidade da presidente, algumas pessoas e a oposição – a meu ver, de maneira irresponsável – resolveram discutir a ideia do impeachment. Agora a coisa está iniciada. Acredito que vai terminar bem para a Dilma e ela vai poder governar mais tranquilamente. Está muito difícil governar o Brasil porque estamos numa recessão muito grave e profunda", afirma Bresser.

O economista defende que, em um momento de atentado à democracia, é importante que a sociedade se una.