Nem os colunistas da grande mídia defendem impeachment

Diante da escancarada violação da Constituição e das manobras de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, para impor um golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, alguns poucos colunistas que têm algum nível de compromisso com o jornalismo estão se posicionando sobre o fato.

jornais brasileiros - Reprodução

“Cada vez mais o processo de impeachment me parece um golpe articulado por Eduardo Cunha, com apoio dos setores do PMDB e PSDB, para colocar Temer na Presidência”, disse Gilberto Dimenstein. Ele fez questão de dizer que não tem “nenhum respeito por Dilma”, mas completa: “Não vou colocar na minha biografia apoio a um movimento que está com cara de golpe, comandado pelo o que existe de pior na política, com tipos como Cunha e Paulinho da Força. Gente do PSDB como Serra pensa muito menos no país do que na sua própria candidatura à Presidência. Talvez pelo PMDB. O discurso da moralidade tem a consistência de uma barra de manteiga na frigideira”.

O jornalista confessa: “Até tento, mas não consegui ver nas razões do impeachment um forte motivo legal para tirar a presidente. Não há provas de seu envolvimento por corrupção. Não considero pedaladas fiscais algo que mereça essa punição. Ainda é menos ruim tolerar Dilma por mais alguns anos do que ficar com Temer, empossado por um achincalhe democrático”.

Para o jornalista Kennedy Alencar, comentarista da rádio CBN, do Jornal do SBT, o ministro Luiz Edson Fachin “agiu com responsabilidade institucional ao suspender a instalação da comissão do impeachment e o andamento desse processo”.

Ainda segundo Kennedy, o impeachment é um mecanismo previsto na Constituição que demanda razões políticas e jurídicas (crime de responsabilidade) e “um impeachment manchado por ilegalidade é golpe travestido de institucionalidade”.

Kennedy afirma que “Eduardo Cunha tem agido de forma incorreta” e que só “aceitou o pedido em retaliação à recusa do PT em protegê-lo no Conselho de Ética da Câmara”. Ele também criticou a reaproximação oficial – já que de fato nunca se afastaram – da oposição PSDB e DEM com Cunha, pois os atos do presidente da Câmara estão contaminados pelo interesse em jogar para o segundo plano as graves acusações de corrupção que pesam contra ele.

Os colunistas também comentaram o conteúdo da carta vazada à imprensa do vice Michel Temer. Bernardo Mello Franco, da Folha, disse que com a carta, Temer perdeu pontos no Congresso.

Já a jornalista Flávia Oliveira, colunista do jornal O Globo e comentarista na Globonews, afirma ver, “nas entrelinhas, uma velha estratégia masculina de inverter culpa e sugerir que foi ‘obrigado a trair’”.