Assim como negou contas na Suíça, Cunha diz: “Eu recusei a barganha”
Diante da evidência de crime de chantagem, com a decisão de autorizar a tramitação do processo de impeachment que ocorreu somente depois que deputados do PT anunciaram que votariam contra o peemedebista no Conselho de Ética onde ele é investigado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), convocou coletiva de imprensa nesta quinta-feira (3) para dizer que não fez chantagem e que foi ele quem não aceitou “barganha”.
Publicado 03/12/2015 12:18
Seguindo o roteiro da mídia para tentar validar a manobra golpista do impeachment, Cunha disse que “a barganha veio, sim, veio proposta pelo governo e eu recusei a barganha”. A fala de Cunha foi no mesmo tom e ênfase que fez durante depoimento na CPI ao dizer que não tinha contas na Suíça, o que ficou comprovado depois pelas investigações que não era verdade.
Mantendo a personagem de pessoa idônea, Eduardo Cunha afirma que Dilma “mentiu à nação em rede de televisão” ao negar ter havido barganha.
Diferentemente de Cunha, a presidenta Dilma fez pronunciamento após o anúncio do acolhimento do pedido, em que disse em tom firme que nunca fez barganha.
“"Nos últimos tempos, a imprensa noticiou que haveria interesse na barganha dos votos de membros da base governista no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Em troca, haveria o arquivamento dos pedidos de impeachment. Eu jamais aceitaria quaisquer tipos de barganha, muito menos aquelas que atentem contra o funcionamento das livres instituições democráticas deste país”, disse a presidenta eleita.
E completou: “Não paira contra mim nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público. Não possuo conta no exterior, nem ocultei do conhecimento público a existência de bens pessoais. Nunca coagi ou tentei coagir instituições ou pessoas na busca de satisfazer meus interesses”.
Mentira têm pernas curtas
Mas a comprovação de que Cunha quer criar um factoide fica ainda mais clara quando ele tenta relatar a suposta situação de “barganha”. Segundo ele, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, levou o deputado André Moura (PSC-SE), aliado de Cunha, a uma audiência com Dilma na qual foi proposta a troca do apoio pela aprovação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras), isso mesmo, CPMF e não impeachment.
Ainda segundo ele, em troca da CPMF ele teria os três votos de deputados do PT no Conselho de Ética, que analisa sua cassação. O governo tem interesse em aprovar a CPMF para ajudar no chamado ajuste fiscal, pacotes de medidas para diminuir o rombo nas contas públicas.
Ora, o interesse de Dilma tão propalado pela mídia golpista seria para se manter no poder em troca de abafar a decisão sobre o mandato de Cunha no Conselho de Ética. Portanto, a história da carochinha que Cunha vem contar não engana ninguém.