Como alguém preso em flagrante, Cunha diz: não fui eu, foram eles
Apesar do notório jogo de chantagem e escancaradas manobras para impor um golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que se diz evangélico, declarou que ele não comete nenhum crime.
Publicado 10/12/2015 11:57
Enquanto usa da prerrogativa de presidente da Câmara para impedir o andamento dos trabalhos da Comissão de Ética que analisa seu envolvimento no esquema de corrupção da Lava Jato, Cunha disse nas informações pedidas pelo ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o PCdoB pretende, “na verdade, passados mais de vinte e sete anos desde a promulgação da Constituição da República, tão somente evitar o trâmite do legítimo e constitucional processo de impeachment”.
Sobre o acolhimento de pedido de impeachment de Dilma, Cunha diz que fez “uso regular e legítimo das atribuições e prerrogativas do cargo” e que a decisão “foi proferida de forma isenta, largamente fundamentada e acolhendo argumentos estritamente técnicos”.
Assim como alguém que acaba preso em flagrante delito e diz que é “inocente”, Cunha afirma que segue todos os procedimentos respeitando a Constituição e que sua decisão é de “mera” deliberação, já que a denúncia é recebida pelo plenário da Casa, por maioria de 2/3 dos 513 deputados, isto é, 342 votos favoráveis.
A fala de Cunha não condiz com a realidade dos seus atos. Nem mesmo os colunistas da grande mídia, que defendem o impeachment, conseguem defender suas ações. O colunista da Folha de S. Paulo, Josias de Souza, resumiu a conduta do presidente da Câmara no título: “Sob Cunha, Câmara vive monarquia absolutista”.
Mas o peemedebista ignora e finge que nada de ilegal está ocorrendo sob a sua batuta. O texto encaminhado ao STF tenta responder todas as alegações apresentadas pelo PCdoB, inclusive a de que a comissão especial que analisa o caso deve ser formada por representantes de todos os partidos, e não por blocos. Cunha afirmou que a atual Constituição permite representação em comissão por blocos, ao contrário da Constituição de 1946, da época em que a lei de 1950 foi editada.
Cunha também tenta se vitimizar, acusando os seus adversários, neste caso específico o PCdoB, de cometer o crime que ele pratica. Diz que os parlamentares estão usando a Procuradoria Geral da República “como instrumento de uma disputa política”, em diversas medidas para afastá-lo do comando da Casa. O que ele não menciona é que a Procuradoria já o indiciou e o investiga por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, incluindo a comprovação de contas na Suíça, que ele negou ter e depois, diante das provas, confessou que eram suas.
“A despeito de confiar em uma avaliação isenta dos fatos pelo procurador-geral da República, que se não foi, certamente será indevidamente demandado pelos adversários políticos do peticionante a requerer um absurdo e infundado pedido de seu afastamento da Presidência da Câmara dos Deputados”, diz o texto.
Cunha afirma que somente apresentou requerimentos no Conselho de Ética para exigir o “devido processo legal”, direito que faz de tudo para impedir que seja exercido quando se trata da presidenta Dilma.
Ele também negou que esteja “atrapalhando” as reuniões, convocando sessões do plenário e interrompendo as sessões ou dificultando espaço físico e comodidade para os usuários da sala.
“Sem entrar no mérito das reclamações (algumas, com o devido respeito, absolutamente pueris), o fato é que nenhuma delas, ainda que fossem verídicas, seria apta a impedir a realização dos trabalhos da Comissão”, diz.
O que ele chama de “pueris”, na verdade revela o absolutismo citado por Josias de Souza, pois não relutou em usar a Presidência para destituir o relator do processo de cassação do seu mandato nesta quarta-feira (9), como medida para atrasar a análise do processo pelos parlamentares.