Porto Alegre: Atos reúnem milhares pela democracia e contra o golpe

A sexta-feira, 11 de dezembro de 2015, foi um dia histórico em Porto Alegre, marcado por por manifestações em defesa da democracia e contra o golpe. Foi lançada a Frente Brasil Popular, o Movimento Pela Legalidade e a Democracia e a realização da Marcha dos Sem, passeata que reuniu cerca de cinco mil pessoas.

Frente Brasil Popular

Durante a manhã, cerca de 700 dirigentes sindicais e dos movimentos sociais de todas as regiões do estado, além de lideranças políticas, reuniram-se no auditório da Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS) para o lançamento da Frente Brasil Popular no Rio Grande do Sul.

O evento contou com as presenças do Coordenador Nacional da Via Campesina e líder do MST, João Pedro Stédile; da integrante da Ação da Mulher Trabalhista (AMT), Miguelina Vecchio; do presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor; da representante da UBM (União Brasileira de Mulheres), Abgail Pereira e da dirigente da Unegro, Elis Regina.

Para Abgail Pereira, "em dias assim, como estes que estamos vivendo, cada brasileira e cada brasileiro está chamado a cumprir seu dever, a se erguer, levantar sua voz. Cada um precisa dar a sua ajuda para rechaçar o golpe, defender a Constituição, salvar a democracia, para que o Brasil supere a crise econômica, volte a crescer, avance nas conquistas sem retroceder. É hora de união, de inclusão, de uma frente ampla democrática suprapartidária.", disse.

Stédile, por sua vez, abordou as tentativas de golpe da elite brasileira no atual cenário, o papel da mídia na manipulação dos fatos e no desgaste ao governo e destacou a necessidade de haver união entre os trabalhadores do campo e da cidade na luta contra o golpe e contra retrocessos no país. Ele também defendeu mudanças na política econômica para garantir da retomada do desenvolvimento com distribuição de renda.

Miguelina Vecchio também ressaltou a necessidade de mobilização, enfatizando o papel das mulheres neste e em outras lutas em curso.


Campanha defende legalidade

Em um local simbólico, a estátua do ex-governador Leonel Brizola, que fica ao lado do Palácio Piratini, PDT, PT, PCdoB, PSOL e Rede realizaram, no final da manhã, o lançamento de uma nova campanha da legalidade contra o impeachment e o golpe: o Movimento Pela Legalidade e a Democracia. Em 1961, Brizola liderou, a partir do Rio Grande Sul, a Campanha da Legalidade para lutar pela defesa da posse do vice João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros.

O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), leu documento de adesão ao Movimento Rede da Legalidade. “A democracia é maior que tudo e este pensamento nos permite separar, nesse momento, divergências ideológicas, programáticas, visões sobre a economia e projetos políticos para o País. É com esse discernimento que afirmamos que não há embasamento legal para o pedido de impeachment da presidente Dilma”, diz o documento, que também traz palavras de Brizola proferidas durante a Campanha da Legalidade.

O prefeito de Porto Alegre colocou que, ao defender o governo Dilma, não estava defendendo a impunidade em casos de corrupção que envolveram o governo, mas salientou que não há fatos, nem base legal que sustentem o processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Após esta leitura, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e ex-ministro do Trabalho dos governos Lula e Dilma, fez uma defesa veemente da legalidade e da necessidade de se defender o mandato da presidenta. “O momento que vive o País é muito grave, de ameaça à soberania constitucional”, disse.

Citando Brizola, Lupi afirmou que o processo de impeachment é um golpe de direita e que não era nenhum exagero compará-lo ao golpe militar de 1964. “Em 1964, começou com alguns civis apoiando o golpe. O governador da Guanabara, Carlos Lacerda, e o governador de Minas Gerais, José de Magalhães Pinto, defenderam porque achavam que iam ser presidentes em seis meses. O que era para durar seis meses durou 21 anos”, disse. Na condição de presidente do PDT, afirmou que o partido "não se curvará ao golpe" e não fugirá do enfrentamento em nome da democracia. "Os nossos filhos, netos e bisnetos não aceitarão a nossa covardia", disse Lupi.

Na mesma linha, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (RS), salientou que, por trás do processo de impeachment da presidente Dilma, estão as mesmas forças conservadoras que tentaram interromper a ordem democrática nos anos 1950 e 1960. "(O impeachment) É um instrumento de uma luta anti-republicana que sempre existiu no Brasil. Fizeram isso contra o Juscelino, fizeram isso contra o Jango, contra o Getúlio, contra o Brizola", disse Tarso. "Não precisa mais de golpe militar, inclusive não há disponibilidade hoje das Forças Armadas para golpe militar, então eles utilizam essa força do capital financeiro, que submete a Constituição, que constrange a sociedade, que chantageia com equilíbrio macroeconômico, criando distorções na ordem republicana para se apropriar do Estado novamente. Então, é uma diferença qualitativa. Agora, o sentido estratégico é o mesmo, perverter o processo democrático, reduzir a influência dos movimentos sociais na definição de políticas públicas, manter as desigualdades sociais que nós vivemos", complementou.

O presidente estadual do PCdoB, Adalberto Frasson, considerou o ato muito positivo e simbólico. "O momento exige uma grande unidade e muita amplitude de todas as forças políticas democráticas, comprometidas com o Brasil. É hora de ter um foco: a defesa de democracia, contra o golpe e pelo Fica Dilma. Uma união em defesa da retomada do crescimento, dos empregos, da conquistas sociais e contra qualquer possibilidade de retrocessos", enfatizou.

Na mesma linha, o deputado federal Henrique Fontana (PT), defendeu a necessidade de se fazer a defesa do mandato da presidente Dilma com o viés de defesa da legalidade. “O que está em jogo agora não é aqueles que apoiam ou não apoiam, aqueles que têm a crítica A ou B, que tem o elogio A ou B ao governo da presidenta Dilma. Acima de tudo, nós estamos defendendo um mandato legítimo, de uma mulher que jamais roubou um centavo do dinheiro público. Não cometeu um único crime e querem cassar o mandato dela com a assinatura e a liderança de um dos políticos mais corruptos do Brasil (Eduardo Cunha). Nós não podemos aceitar isso”, disse o deputado. “A única maneira que a democracia aceita de colocar alguém no poder é através do voto da maioria da população. O que eles estão tentando fazer é pegar um atalho”.

Também participaram do ato o ex-governador Olívio Dutra, os deputados federais Maria do Rosário (PT), Deonilso Marcon (PT), os deputados estaduais Luiz Fernando Mainardi (PT), Stela Farias (PT), Edegar Pretto (PT), Tarcisio Zimmermann (PT), Manuela D’Ávila (PCdoB), Junior Piaia (PCdoB), o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, a ex-candidata à presidente Luciana Genro (Psol), o trabalhista histórico e ex-líder do governo Brizola na Assembleia Legislativa do Estado Sereno Chaise, a vereadora Jussara Cony (PCdoB), entre outros.


Marcha dos Sem pela democracia

Durante a tarde ocorreu a 20ª Marcha dos Sem, movimento já tradicional do RS, organizado pelos movimentos sociais e sindicais (Coordenação dos Movimentos Sociais – CMS) que, neste ano, embandeirou-se na defesa da democracia e contra os golpistas. A pauta da marcha também contemplou a luta contra o ajuste fiscal, além da mobilização dos servidores públicos estaduais diante do arrocho salarial e das ameaças de privatizações no estado.

A caminhada partiu do Parque da Harmonia, seguiu pela rua Aureliano de Figueiredo Pinto, Avenida Borges de Medeiros, rua Jerônimo Coelho até a Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, onde fica a sede do governo estadual.  

"Não vai ter golpe"

A frase que mais ecoou nas ruas da capital gaúcha foi, sem dúvidas, o "não vai ter golpe", entoado em coro pelos milhares de manifestantes. "Trazemos para as ruas toda a indignação dos trabalhadores diante da atitude dos golpistas do impeachment, que querem derrubar a presidenta Dilma. Vamos gritar cada vez mais forte que não vai ter golpe”, afirmou o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo. Ele salientou que “a agenda dos golpistas é contra a classe trabalhadora”. Segundo Claudir, “eles são os mesmos que vêm tentando aprovar medidas no Congresso Nacional, que atacam direitos trabalhistas e precarizam o trabalho, como o PL 4330 das terceirizações”.

Já Abgail Pereira fez um chamado especial, diante do Palácio do governo, para que Sartori saia do "muro" e, a exemplo da maioria dos governadores, tome posição contra o impeachment.

Guiomar Vidor, da CTB RS, também centrou sua manifestação na necessidade de se fortalecer a luta pela democracia e contra o golpe. "Esta marcha, assim como o lançamento da Frente, foram grandes demonstrações da vontade dos setores que representam trabalhadores em defender a democracia, ccontra o golpe e em defesa dos avanços sociais conquistados no último período. Buscamos com essa mobilização que o Brasil siga avançando nas mudanças que atendam os interesses da sociedade brasileira e, principalmente, para que possamos fazer as reformas estruturais. Queremos que o Brasil retome o processo de geração de emprego, distribuição de renda e sigamos evoluindo no sentido de que o trabalhador possa usufruir do país que constrói", acentuou.

O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, enfatizou que os mesmos que defendem o golpe são os que propõem retrocessos nos direitos dos trabalhadores e da sociedade no Congresso. “É um momento de luta de classes. Não é só uma luta pela defesa de Dilma. É uma luta contra o retrocesso” disse.

Com informações do Sul 21