Deputado critica venda da Gaspetro para empresa japonesa
Deputados criticaram a decisão da Petrobras de vender 49% da sua subsidiária Gaspetro para a Mitsui Gás e Energia do Brasil, empresa que pertence à japonesa Mitsui. O negócio, de R$ 1,9 bilhão, ainda não foi finalizado, mas já teve o sinal verde do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Publicado 14/12/2015 16:58

O deputado Davidson Magalhães (PCdoB-BA), que sugeriu o debate ocorrido na Comissão de Minas e Energia da Câmara na quinta-feira (10), citou o caso específico da Bahiagás. A empresa tem o estado baiano como acionista majoritário (51%). O restante está dividido, meio a meio, entre a Gaspetro e a Bahia Participações, controlada pela Mitsui. O fechamento do negócio entre a brasileira e a japonesa passará para esta 49% do controle acionário. Isso dará mais poder à Mitsui dentro do plano de negócios da Bahiagás.
A preocupação dos parlamentares com a interferência da Mitsui nas distribuidoras estaduais se estende a outras 19 empresas de distribuição de gás. controladas pelos estados. A Gaspetro tem participação em todas elas, que serão repassadas à Mitsui.
“Isso é um problema grave para a maturação da indústria de gás no Brasil”, disse Magalhães, citando como exemplo o fato da empresa relegar para segundo plano a estratégia da Bahiagás de interiorizar a distribuição de gás no estado.
O deputado alertou que a Mitsui já está interferindo no dia a dia da distribuidora baiana, com a conivência da Gaspetro. “Está havendo uma alteração do processo decisório das companhias”, afirmou. No início do mês, o governo baiano obteve uma liminar na Justiça estadual que interrompeu o negócio entre a Gaspetro e a Mitsui.
Plano de negócios
A venda de parte da Gaspetro para o setor privado faz parte do plano de negócios da Petrobras, aprovado no meio do ano, com o objetivo de gerar caixa para reduzir o endividamento da companhia. De acordo com o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Hugo Repsold, que participou da audiência, a estatal tem um passivo que passa de 130 bilhões de dólares.
Repsold defendeu o negócio e disse que ele foi feito com transparência. “O processo de venda foi competitivo, houve bastante interesse e despertou um conjunto relevante de interessados”, disse. Ele contestou o argumento de que a medida enfraquece a participação dos estados no mercado de gás.
Segundo Repsold, desde que o negócio foi anunciado, cresceu o interesse de investidores nas distribuidoras estaduais, que ganharam visibilidade no mercado. “Estamos diante de uma boa oportunidade, e não de uma ameaça”, afirmou.
Suspeitas
Já o diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Leonardo Urpia, levantou suspeitas sobre o negócio. Ele lembrou que o presidente do conselho de administração da Petrobras à época em que o negócio foi discutido era o executivo Murilo Ferreira, presidente da mineradora Vale, que tem negócios com a Mitsui. Urpia disse que pode ter havido tráfico de influência ou troca de informações privilegiadas durante a discussão da venda.
Ele disse ainda que a Petrobras não deve se desfazer de ativos que geram receitas para ela. A Gaspetro teve lucro líquido de R$ 1,6 bilhão em 2014. “Neste momento financeiro, a empresa não pode se desfazer de ativos geradores de caixa”. A FUP ingressou com uma ação civil pública na Justiça federal para impedir a venda das ações da subsidiária.