Ex-ministro argentino de Economia alerta sobre ajuste monetário

O ajuste monetário promovido hoje pelo governo de Mauricio Macri conduzirá a Argentina à recessão, advertiu o deputado nacional e ex-ministro de Economia Axel Kicillof, em palestra aberta no Parque Centenário desta capital.

Axel Kicillof

O enorme espaço verde do bairro portenho de Caballito não foi suficiente para acolher as mais de sete mil pessoas que foram escutar Kicillof no fim da tarde deste domingo (20).

Perante a multidão, o agora deputado comentou que vai ser forte o impacto da desvalorização sobre os preços dos produtos básicos.

Na quinta-feira (17), entrou em vigor a desregularização do mercado monetário, com a eliminação por decreto de necessidade e urgência dos controles cambiais e o peso desvalorizou, passando de 9,8 a 14 pesos por dólar.

Essa depreciação da moeda nacional fez com que, de uma canetada, a renda e poupanças familiares perdessem mais de 30% do valor frente à divisa norte-americana.

“Quando se desvaloriza 40%, temos que esperar no próximo período que essa desvalorização seja repassada em diferentes proporções a praticamente todos os bens da economia”, explicou Kicillof.

“A desvalorização sempre é inflacionária. E se acontece uma forte ou muito forte, como tem sido, então o impacto nos preços vai ser igualmente forte”, segundo previu Kicillof.

Para ilustrar sua opinião, o ex-ministro usou como exemplo o fato de que, no mesmo dia em que entrou em vigor a depreciação, o custo do trigo no mercado argentino, em Rosario, subiu 40%.

Desse modo, este ajuste “vai influenciar o poder aquisitivo dos salários” e explicou que se isso acontece “também vai gerar problemas de demanda, de consumo” e “vai afetar a atividade econômica”.

Tomado por esse problema urgente, a administração macrista negocia com as grandes empresas fornecedoras manter o programa de controle de preços 'Precios Cuidados' para 400 produtos lançados pelo governo anterior com aumentos escalonados de cinco porcento, enquanto o resto da mercadoria ficará livre.

Kicillof descreveu as medidas implementadas pelo governo macrista como política econômica ortodoxa, e "até agora não vimos nem uma medida que seja a favor dos setores populares, assalariados, aposentados" mas "sim soubemos que falaram com os [fundos] abutres".

Além disso, questionou que no macrismo "agora inventam que há um déficit (promotor) quilométrico" para "aplicar o plano de ajuste, que é também o plano do FMI", e enfatizou que "era uma mentira que o Banco Central não tinha reservas".

Afirmou que, entre outros valores, havia nos cofres uma premissa que é o "swap" chinês (troca monetária) de US$ 11 bilhões.

Não contavam com ele, mas agora o que o governo de Macri fez é usar esse "swap", que foi o governo de Cristina Fernández que conseguiu, e inclusive pedir mais", se queixou. Essas "são as mentiras sobre as quais construíram uma justificativa para o ajuste".

"Por agora, tudo o que foi feito favorece a muito poucos" e "prejudica a maioria através de sua transmissão aos preços", afirmou.

Kicillof foi ainda mais forte: "Parece que querem um país atendido por seus próprios donos. Se Macri quer fazer um ajuste, é por responsabilidade deste governo, não porque lhe tenham deixado um problema", reafirmou.

O agora deputado afirmou que continuará explicando "o que fizemos e o que estão fazendo, e não nos vão poder calar", assegurou perante aplausos de uma plateia grande que se auto-convocou pelas redes sociais.