Fórum Social completa 15 anos em cenário de grave desigualdade mundial

Relatório da ONG Oxfam divulgado nesta segunda (18) apontou que o patrimônio das 85 pessoas mais ricas do mundo equivale ao que possui metade da população mundial. O dado alarmante reforça a atualidade do Fórum Social Mundial, que inicia a edição temática nesta terça-feira (19), em Porto Alegre, onde aconteceu o primeiro encontro há 15 anos. Nesta terça, às 18h, em torno de 15 mil pessoas devem participar da tradicional marcha de abertura que sairá do centro da cidade.

Por Railídia Carvalho

assembleia de mulheres tunísia foto deborah moreira

Serão cinco dias de encontro, 470 atividades inscritas e a presença de aproximadamente 2 mil organizações que reúnem representantes de movimentos sociais de mais de 60 países, entre eles o Brasil, que terá a presença de movimentos como a União de Negros pela Igualdade (Unegro), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), a União Brasileira de Mulheres (UBM), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e União da Juventude Socialista (UJS).

Mauri Cruz, integrante do Comitê Organizador Local, e que participa do Fórum desde 2003, como organizador, explicou que a programação foi pensada para promover a reflexão sobre os 15 anos e as novas formas de atuação. O encontro de Porto Alegre é preparatório para o Fórum Social Mundial que acontecerá em agosto em Montreal, no Canadá.

Segundo ele, as atividades do dia 20 têm a característica de fazer uma balanço da conjuntura e das lutas sociais do Fórum, enquanto nos dias 21 e 22 o perfil dos encontros será voltado, respectivamente, para abordar desafios e perspectivas. A organização estima que devem passar pelo encontro 30 mil participantes.

Retrospectiva e outros protagonistas

A luta para construir uma alternativa ao capitalismo e ao sistema econômico predatório, a defesa da paz e da autodeterminação dos povos. Foram as razões que motivaram o surgimento do Fórum Social Mundial há 15 anos. Em 2005 o Fórum reuniu em Porto Alegre cerca de 150 mil pessoas.

Porto Alegre é uma espécie de cidade símbolo do Fórum, que também recebeu o balanço de 10 anos, comemorados em 2010. “Porto Alegre ficou como referência. A cidade se orgulha de receber o fórum. Essa edição é temática mas está com uma dimensão de fórum mundial. A cidade se prepara para receber de forma calorosa. Tem essa identidade”, refletiu Mauri.

Ele também chamou atenção para uma mudança no protagonismo dos atores que participam do Fórum. “As mesas estão recheadas de mulheres e da juventude negra e não só da periferia de São Paulo mas da periferia da Tunísia, Paris, Canadá. Lá atrás o protagonismo era de intelectuais de esquerda, basicamente europeus, e homens”, comparou Mauri.

Crise

O acirramento da crise econômica de 2007/2008 agravou a disputa internacional entre as grandes potências pelo poder que segue subjugando nações e apontando as guerras e táticas de terror contra os povos de todo o mundo.

Apesar da crise econômica aguda e de alguns retrocessos, Wevergton Brito Lima, jornalista e integrante da Comissão de Políticas e Relações Internacionais do PCdoB, analisou que “as forças progressistas hoje têm mais instrumentos a seu favor do que em 2001 quando o Fórum Social Mundial realizou sua primeira edição”.

Wevergton ressaltou que as forças de resistência estão fortalecidas e EUA e União Europeia têm tido seus papéis questionados no mundo inteiro como agentes da guerra e de determinadas ações terroristas, como no caso da Síria. “Esta percepção sobre o papel do imperialismo pode levar a outra mais importante, qual seja: a causa final tanto das crises, quanto da guerra e da destruição do meio ambiente é o capitalismo”, concluiu.

Golpismo

A deputada federal e presidenta do PCdoB, Luciana Santos, destacou a importância do Fórum na luta dos movimentos sociais em defesa do estado democrático de direito. Ela participará da mesa “Democracia e Desenvolvimento em tempos de golpismo e crise” que  acontecerá no dia 20, às 17h, no auditório Araújo Viana, no parque Farroupilha. Luciana representará a Fundação Maurício Grabois, organização realizadora da mesa ao lado da Fundação Perseu Abramo e Fundação Leonel Brizola, entre outras.

Luciana observou que no Brasil, diante de um cenário de ofensiva das forças de direita, cresce a consciência democrática. “São inúmeras as iniciativas contra o golpe (…) Manifestos de diversos setores, somados às jornadas de lutas organizadas pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo e que levaram às ruas dezenas de milhares de pessoas, são demonstrações de força dos movimentos sociais e das forças políticas em defesa da democracia e pela retomada do crescimento”, defendeu a deputada.

Na opinião do secretário nacional de Movimentos Sociais do PCdoB, André Tokarski, “os movimentos sociais brasileiros têm cumprido um papel decisivo” no combate ao retrocesso das conquistas sociais do Brasil. “Realizamos ao longo do ano de 2015 mobilizações unitárias e crescentes em defesa da democracia – contra a tentativa golpista de sacar Dilma da Presidência da República –, em defesa dos direitos sociais e por uma nova política econômica, capaz de retomar o desenvolvimento e a geração de empregos”.

André sugeriu à Assembleia de Movimentos Sociais, que será realizada dia 23 no encerramento do Fórum, “a construção de lutas unitárias para enfrentar a crise do capitalismo, as crescentes agressões militares das forças imperialistas e a ofensiva da direita da América Latina”. Na opinião dele, “merece atenção e solidaridade de todas as forças democráticas e progressistas os ataques sofridos pelos governos de Dilma, no Brasil, e Nicolás Maduro, na Venezuela, por parte da direita golpista e reacionária destes países”.

O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil-Rio Grande do Sul (CTB-RS), Guiomar Vidor, afirmou que os trabalhadores acompanham com apreensão as perspectivas de retrocessos no Brasil e na América Latina.

“Precisamos cada vez mais nos organizar e intensificar nossa luta em defesa da democracia, do desenvolvimento e da valorização do trabalho. É nessa perspectiva que a CTB participa do Fórum Social Mundial, somando esforços para que o evento seja um importante momento de reflexão da luta dos trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo”, defendeu Vidor.

Programação Cultural

Expressões culturais do movimento negro, música tradicional, produção musical contemporânea estão na programação cultural do Fórum Social Mundial temático. O show de abertura traz um velho conhecido do fórum: O cantor e compositor gaúcho Nei Lisboa se apresenta nesta terça no mesmo dia em do rapper paulista Moysés e do grupo Rock de Galpão. No dia 20 as apresentações são dedicadas ao Hip Hop enquanto que o show do dia 21 terá música instrumental e no dia 22 o tradicional maçambique, música e dança inspirada na festa do rei Congo.

Serviço:

Fórum Social Mundial: Balanço, Desafios e Perspectivas por Outro Mundo Possível

De 19 a 23 de janeiro

Porto Alegre (RS)


Dia 19 de janeiro: Abertura: Marcha de Abertura “Paz Democracia Direitos dos Povos e do Planeta”

Concentração: 18:00 (Largo Glênio Peres)

Show de Abertura: 19h (Largo Zumbi dos Palmares) Com Nei Lisboa, Rock de Galpão e Moysés

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