Irã: travar negociações com EUA é ‘perda de tempo’
Embora as negociações sobre o programa nuclear iraniano tivessem acabado com êxito e as partes tivessem conseguido chegar a um acordo, o Irã não planeja restabelecer completamente os contatos econômicos com os EUA.
Publicado 19/01/2016 12:47
A respectiva declaração foi feita pelo presidente iraniano Hassan Rouhani após o levantamento das sanções ocidentais contra o seu país.
Ele notou que só podem ser feitas exceções às exportações de aeronaves, ou de categorias concretas de produtos, tais como frutos secos ou tapetes. Além disso, o Irã pode oferecer condições especiais mais favoráveis para as empresas norte-americanas que não atuam no território dos EUA.
O acordo sobre o programa nuclear iraniano foi assinado em julho de 2014 e libertou o país das sanções econômicas e financeiras introduzidas pelos EUA e a União Europeia em 2005. As sanções foram motivadas pela alegada natureza militar do seu programa nuclear.
Os EUA e a UE confirmaram oficialmente a revogação das sanções contra o Irã em 16 de janeiro deste ano.
Enquanto isso, vale lembrar que o processo das negociações entre o Irã e o sexteto de mediadores internacionais (cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) duraram por mais de 12 anos e, durante este tempo, os EUA não apresentaram provas de que o Irã tivesse enriquecido urânio no seu território. Os especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que encontraram e inspecionaram as centrífugas para enriquecimento de urânio também confirmaram que estas não foram usadas.
Segundo o especialista em Oriente Médio e pesquisas sobre as relações com os EUA, professor Fouad Izadi, todo o processo das negociações mostrou que os Estados Unidos tentam ditar as suas regras.
Izadi sublinhou que, durante quaisquer negociações, as partes devem estar prontas para fazer concessões, serem flexíveis, de maneira a atingir um acordo. Mas parece que os Estados Unidos não acham necessário fazer isso.
“Pelo contrário, [o governo dos EUA] tenta impor os seus interesses sem tomar em conta a nossa posição. Por isso, o Irã acha que o diálogo com os EUA sobre qualquer questão não levará a nada e as negociações serão infrutíferas e inúteis. É uma perda de tempo.”
O Conselheiro do Presidente para Assuntos Externos do Parlamento iraniano Hossein Sheikholeslam sublinhou o fato de que as negociações só visaram discutir o programa nuclear do país e não as questões regionais.
“Falando sobre os contatos futuros entre o Irã e os EUA, é possível dizer certamente que tudo depende da implementação do Plano Conjunto de Ações (sobre o programa nuclear do Irã). Quando os americanos cumprirem os seus compromissos, sim, o Irã realizará negociações. Quanto a outras questões regionais, nós não precisamos travar diálogo com Washington”.
Geralmente, parece bastante óbvio de que as relações bilaterais entre o Irã e os EUA atualmente não prometem grandes mudanças. O exemplo claro é a recente introdução por parte dos EUA de mais sanções contra o país árabe. Desta vez são ligadas com o programa de mísseis balísticos.
Fouad Izadi, investigador da Universidade de Teerã que realiza pesquisas sobre as relações com os EUA, destacou que "se os EUA mudarem a sua política, existe a possibilidade de que as nossas relações vão melhorar. Mas atualmente não há sinais de que Washington venha a mudar a sua política externa”.