Tom Zé e as esquinas de São, São Paulo
Quando se fala no baiano de Irará, Tom Zé (79), lembramos sempre de São Paulo. O músico e compositor que veio morar na capital paulista por volta dos 30 anos criou dentro de sua obra uma relação próxima com a cidade e a cada esquina dos seus discos encontramos as “mil chaminés e carros” da terra da garoa.
Por Thiago Cassis*, especial para o Vermelho
Publicado 22/01/2016 12:34

Logo na primeira faixa, do primeiro disco, em 1968, o músico já escancara sua relação com a cidade: “São São Paulo meu amor, São São Paulo quanta dor”, e logo veio o prêmio no prestigiado Festival da Música Popular Brasileira, na TV Record. Daí pra frente desde a briga entre o Edifício Itália que “era o rei da Avenida Ipiranga: alto, majestoso e belo” com o Hilton Hotel “gracioso, moderno e charmoso” até a vida amarga de Senhor Cidadão São Paulo está sempre nas canções de Tom Zé (entre as faixas do baiano, e corintiano, que já fez até música pro craque Neto, clique aqui para escutar).
Nos 6 álbuns, e diversos compactos, gravados entre 1968 e 1978, a cidade que Tom Zé escolheu para ser sua está direta ou indiretamente permeando suas criações. Mas é no sexto álbum, de 1978, que a capital paulista passa de tema constante para tema central da obra.
Correio da Estação do Brás
Sendo o último álbum de Tom Zé lançado pela gravadora Continental, marcando o fim da primeira fase do músico, Correio da Estação do Brás foi lançado em 1978 e foi inspirado pela experiência do artista como repórter de um programa da TV Cultura que investigava a migração de nordestinos em direção a São Paulo em busca de melhores condições de vida.

Capa do álbum de 1978, Correio da Estação do Brás
Uma compilação de ritmos nordestinos e letras recheadas de chegadas e partidas. A saudade de quem vem buscar condições de sobrevivência e deixa pra trás os seus entes queridos.
O texto na contracapa do disco apresenta do que se trata suas músicas:
Pecado, rifa e revista do álbum Correio da Estação de Brás
Experimental, esquecido e redescoberto
Cada vez mais experimental e dando prejuízo para a gravadora, Tom Zé passa seis anos sem conseguir gravar um novo disco. Em 1984, reaparece com Nave Maria, mas consegue pouca projeção, sendo esse o único disco que produz na década de 80.
Apenas no início dos anos 90, com o crescente interesse, sobretudo vindo de fora do país, em relação à Tropicália e os artistas envolvidos com o movimento, Tom Zé retoma sua produção e segue firme entre discos, shows e claro, retratando com sons a cidade que aprendeu a amar.
Reza a lenda que o músico e produtor David Byrne garimpava discos de samba no Rio de Janeiro, para aprofundar seus estudos sobre o ritmo e foi então que algum vendedor entregou Estudando o Samba, álbum lançado por Tom Zé em 1976, para o gringo e fez com que ele se debruçasse sobre a obra do baiano que com isso voltou a ativa para sorte dos paulistas, dos brasileiros e de todos que amam boa música.
Ouça as canções de Tom Zé sobre a capital paulista:
São São Paulo
Augusta, Angelica e Consolação
Correio da estação do Brás – álbum completo
Referências
1 – Zé, T. Topicalista Lenta Luta p. 32
2 – Pimenta, H. (org) Encontros – Tom Zé. p. 41