Goldman Sachs lança dúvidas sobre eficiência do capitalismo

Em meio a uma discussão sobre a sustentabilidade das margens de lucro das empresas, os analistas da gigante instituição financeira Goldman Sachs disseram a seus investidores, em uma nota, que podem ter que questionar a eficiência do próprio capitalismo. Que o sistema econômico hoje dominante no mundo é alvo de muitas críticas e dúvidas é um fato; que elas partam de um banco, isso é novidade.

Wall Street

O debate sobre se as margens de lucro das empresas podem se manter em um nível elevado ou se inevitavelmente regressarão à média é dos mais acalorados no mercado financeiro. Uma análise rápida sobre as margens do índice S&P500 nos últimos 25 anos, por exemplo, mostra que tais níveis seguem altos frente aos dados históricos, apesar da desaceleração que mostraram nos últimos trimestres.

Os analistas discutem se isso é sustentável considerando o aumento da competição e o crescimento econômico abaixo da tendência. De acordo com João Pedro Caleiro, da Revista Exame, os "bulls" (touros), termo do mercado financeiro para aqueles que apostam na alta, argumentam que as margens podem ser mantidas já que há espaço para as empresas cortarem custos e se aproveitarem de avanços tecnológicos.

Do outro lado, estão os "bears" (ursos), que acreditam em uma queda, apontando que o espaço para cortes nos custos das empresas vai ser reduzido, a competição deve ganhar ímpeto e pressões sociais e regulatórias devem afetar a relação preço/lucro.

Foi nesse contexto que analistas do Goldman Sachs, liderados por Sumana Manohar, emitiram uma nota, analisando os argumentos dos dois lados. O texto sustenta que as margens se expandiram graças a certas tendências-chave: altos preços das matérias-primas, empresas que fabricam produtos mais baratos em mercados emergentes, crescimento da demanda por parte desses países e uma maior eficiência das empresas graças ao uso de novas tecnologias.

A nota da Goldman Sachs também assinala que o mercado recompensou as companhias que levaram a cabo fusões e programas de recompra de ações impulsionando suas margens, em comparação às empresas que investiram internamente.

Da parte otimista, o banco diz que a contínua consolidação dos mercados, a deflação de custos e a poupança ajuda a respaldar as margens. Mas acredita, em última instância, que essas tendências, unidas à debilidade da demanda, e um excesso geral de capacidade industrial apontam para uma provável queda das margens de lucro.

O banco avalia então que, nos próximos dois a três anos, os ursos devem se provar corretos. Mas não ignora a resposta dos touros. É aí que a nota da instituição financeira fica inusitada:

"Se estivermos errados e as altas margens conseguirem se manter nos próximos anos (particularmente quando a demanda global está abaixo da média), há questões mais amplas a serem feitas sobre a eficácia do capitalismo", diz o texto.