Escândalo: Alckmin impõe 50 anos de sigilo aos boletins de ocorrência

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo agora tem o monopólio das estatísticas da criminalidade no Estado. No início deste mês foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo medida do governador Geraldo Alckmin que impõe sigilo absoluto sobre os dados de boletins de ocorrências policiais. Em publicação no facebook, o coletivo Jornalistas Livres classificou a notícia como um "escândalo" e teme pelo incentivo à violência.

Fim do auto de resistência não basta para reduzir a violência policial
“Em muitas chacinas, a ação de milícias e de grupos de extermínio só pôde ser investigada porque repórteres dedicados foram ouvir o lado da família das vítimas. E esse tipo de informação (nome, endereço) consta do B.O., que era um documento público. Era. Agora, isso não será mais possível. Só Alckmin e sua polícia vão saber onde se encontram os aterrorizados e traumatizados parentes das vítimas. É um escândalo!”, continuou a publicação dos Jornalistas Livres.

De acordo com o texto do decreto são impostos 50 anos de sigilo ao “histórico de registro digital de ocorrência e boletim eletrônico de ocorrência, quando não for possível a proteção dos dados pessoais dos envolvidos e testemunhas”. Na prática, abre a possibilidade de que o acesso aos BOs sejam negados.
 

“Está claro que os programas policialescos (os Marcelos Rezendes, os Datenas et caterva) continuarão recebendo os vazamentos das notícias que interessam à tropa e aos agentes. Quem, entretanto, quiser desafinar o coro dos linchadores, terá grande dificuldade de ação”, comparou a nota do coletivo.
Arquivamento e Impunidade


"A violência ainda é a primeira resposta para a resolução dos conflitos interpessoais, sociais, estatais. A Justiça Criminal é feita para prender e, em alguma medida, eliminar socialmente essa clientela. Logo, é uma Justiça inapta para proteger as pessoas que são mortas pela polícia”, afirmou a defensora pública Daniela Skromov, em entrevista à repórter Vanessa Nakasato, para o Seu Jornal, da TVT.
Essa clientela que dominam as estatísticas de mortes são negros e moradores da periferia. Em recente pesquisa, o Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos humanos da Defensoria Pública de São Paulo apontou que mais de 90% das ocorrências de mortes provocadas por policiais em serviço, ações conhecidas como autos de resistência, são arquivadas sem investigação pelo Ministério Público estadual
Pesquisa divulgada pelo Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos humanos da Defensoria Pública de São Paulo mostra que mais de 90% das ocorrências de mortes provocadas por policiais em serviço, os chamados autos de resistência são arquivadas sem investigação pelo Ministério Público estadual. A maioria das vítimas é negra e moradora da periferia.
"Não dá nem para dizer que a Justiça inocenta os policiais, porque ela sequer dá um veredito, de culpado ou inocente. A imensa maioria dos casos não chega nem a ser denunciada", ressaltou Daniela.
O monopólio pelo Estado dos dados que constam nos boletins deve restringir o acesso às informações dificultando as investigações. Para os Jornalistas Livres a medida dificulta, sobretudo, a denúncia dos abusos policiais de caráter racista e discriminatório. “O caráter público do B.O. é uma garantia de defesa contra uma polícia que tem fé pública, mas frequentemente usa suas armas e a capacidade de intimidação para "fabricar" suas verdades, montar cenas de crimes etc.”, concluiu texto do facebook.

Confidencial
 

Além dos boletins de ocorrência, o decreto estende o sigilo, neste caso por 15 anos, à informações como efetivos policiais, normas e manuais de conduta das corporações. No que se refere às informações de inteligências, que são ultrassecretas, o decreto diz que só poderão ser divulgadas depois de 25 anos.