Mirian diz que FHC fazia transferências bancárias para ela no exterior

Em entrevista à colunista Mônica Bergamo, publicada na Folha de S.Paulo desta quinta-feira (18), a jornalista Mirian Dutra – que teve uma relação extraconjugal com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – fez mais revelações sobre seu caso após 30 anos de silêncio. "Eu não quero morrer amanhã e tudo isso ficar na tumba. Eu quero falar e fechar a página", afirma.

FHC e Mirian Dutra

A jornalista disse ainda que Fernando Henrique Cardoso mandava dinheiro para ela e seu filho, Tomas Dutra, no exterior, através da empresa Brasif S.A. Exportação e Importação. E que a transferência foi feita a partir da assinatura de um contrato fictício de trabalho, celebrado em dezembro de 2002 e com validade até dezembro de 2006.

No contrato com a Eurotrade Ltd., empresa da Brasif com sede nas Ilhas Cayman, a jornalista deveria prestar "serviços de acompanhamento e análise do mercado de vendas a varejo a viajantes", fazendo pesquisas "tanto em lojas convencionais como em duty free shops e tax free shops" em países da Europa.

"Eu trabalhava na TV Globo e tive um corte de 40% no salário em 2002. Me pagavam US$ 4 mil. Eu estava superendividada, vivia de cartões de crédito e fazendo empréstimo no banco. Me arrumaram esse contrato para pagar o restante", afirma Mirian, que disse que "jamais pisou" em uma loja convencional ou em um duty free para trabalhar.

O acordo foi mediado pelo lobista Fernando Lemos, morto em 2012, que era casado com Margrit Dutra Schmidt, irmã de Mirian.

"Por que ninguém nunca investigou as contas que o Fernando Henrique tem aqui fora?"

"Ele (FHC) me contou que depositou US$ 100 mil na conta da Brasif no exterior, para a empresa fazer o contrato e ir me pagando por mês, como um contrato normal. O dinheiro não saiu dos cofres da Brasif e sim do bolso do FHC", diz. "Por que ninguém nunca investigou isso? Por que ninguém nunca investigou as contas que o Fernando Henrique tem aqui fora?", questionada Miriam.

O empresário Jonas Barcellos, dono da Brasif, não nega o acerto. Mas diz não se lembrar de detalhes.

Em nota, FHC negou que tenha utilizado a empresa Brasif S.A. Exportação e Importação para enviar recursos para ajudar a jornalista. Ele admite, no entanto, manter contas no exterior, ter mandado dinheiro para Tomás e ter lhe presenteado recentemente com um apartamento de 200 mil euros em Barcelona, na Espanha.

Em trechos de outra entrevista concedida à colunista Natuza Nery, Miriam relata detalhes do seu sofrimento na época: "Quando disse que estava grávida, ele disse "você pode ter este filho de quem você quiser, menos meu". Eu falei: "não acredito que estou escutando isso de uma pessoa que está há seis anos comigo". Ela revela ter feito outros abortos a pedido de FHC.

Miriam diz ainda que foi ajudada pelo ex-senador Jorge Bornhausen e que ACM agiu pedindo para a Globo para ela não voltar ao Brasil.