Terceira reunião do Fórum de Debates sobre Trabalho, Emprego e Renda fevereiro de 2016 - Portal CTB
A terceira reunião do Fórum, formado por dirigentes sindicais, representantes do setor empregador e governo, foi dirigida pelos ministros Jaques Wagner, Ricardo Berzoini (Casa Civil e Sec. de Governo), Nelson Barbosa (Fazenda) e Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência). Como esperado, a posição das centrais foi priorizar a retomada do desenvolvimento priorizando a geração de emprego. Os sindicalistas apresentaram propostas direcionadas a ampliação de investimentos na área da indústria, energia e construção civil, baseadas nas diretrizes do Compromisso pelo Desenvolvimento, apresentadas à presidenta Dilma no final do ano passado.
O ministro Barbosa defendeu a reforma e apresentou argumentos para justificar as mudanças. Na contra-mão, os sindicalistas discordaram dos dados divulgados, os quais apontam o déficit e responsabilizam a Previdência Rural pelo prejuízo. Para os representantes dos trabalhadores, a desoneração fiscal e a dívida pública são as verdadeiras responsáveis pelo saldo negativo, mas, ainda assim, a Previdência, como os cálculos apresentados mostraram, segue superavitária.
Para o movimento sindical o governo erra ao insistir na reforma neste momento de crise. Os dirigentes afirmam que nenhum acordo será feito sem antes haver uma discussão ampla e transparente, onde “a caixa-preta” da previdência seja aberta e aponte onde está realmente o problema.
Em resposta, o ministro Rossetto anunciou que o assunto seria discutido na próxima reunião do colegiado, com foco "na verificação de opiniões em relação a Previdência". Ele afirmou que o governo mobilizará toda a sua equipe para buscar “diálogo e convergência” com as centrais em relação ao tema. O ministro ainda informou que será formada uma comissão técnica para abrir o debate discutindo e esclarecendo as dúvidas sobre os números da Previdência entre os membros do Fórum.
Retomada do Desenvolvimento
O ministro Nelson Barbosa apresentou a estratégia política e econômica do governo para superar a crise com base no ajuste fiscal, que contempla a reforma da previdenciária. “A agenda Previdência é pró-crescimento”, justificou.
Barbosa divulgou as principais ações implementadas pelo governo no último ano, alinhadas às solicitações das centrais, a exemplo do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), acordos de leniência e expansão de crédito.
Pascoal Carneiro, secretário de Previdência, Aposentados e Pensionistas da CTB, disse que as centrais sindicais se limitaram a discutir exclusivamente propostas de crescimento e defesa do emprego.
“O momento não é apropriado para se falar em reforma da Previdência. Esta é uma crise do capitalismo e mundial e a reforma não vai resolver o problema. É necessário que haja ações voltadas para o crescimento econômico, geração de emprego, política de distribuição de renda, investimento do setor público em infraestrutura. Nós, representantes dos trabalhadores, não vamos aceitar discutir reforma a toque de caixa, como o governo quer. Discutir propostas em apenas 60 dias demonstra a intenção de não se aprofundar nas questões que interessam a população e ao povo brasileiro. Estamos abertos ao diálogo, mas isso não significa dizer que haverá acordo. Deixamos claro para os ministros hoje que não debateremos reforma agora. Aceitamos apenas a proposta de ouvir a comissão técnica”, destacou Pascoal.
O cetebista diz que o governo não apresenta argumentos sólidos e convincentes para mudar as regras da Previdência e ajustar as contas da União. A posição das entidades que atuam em defesa do trabalhador é totalmente contrária a implementação de uma idade mínima e a equiparação de homens e mulheres com relação ao tempo de contribuição.
“Houveram mudanças recentes na Previdência, como, por exemplo a adoção da fórmula 85/95, acrescida da progressividade, para se chegar a 90/100, que já incluíram a idade mínima. Não dá para aceitar discutí-la, quando ela já existe”, opinou Pascoal.
Carneiro defende que agora é hora de retomar os investimentos e gerar emprego. “É preciso criar condições para o aumento da produção e exportação, é isso que queremos discutir. Essa agenda de crescimento econômico sustentável tem unidade entre trabalhadores e empresários. Então o governo precisa priorizar isso. Trazer à tona mudanças na Previdência, neste momento, é muito ruim para o País, especialmente para os trabalhadores”, afirmou.
"A crise econômica exige medidas de geração de emprego e garantias de renda", complementou Sérgio Nobre, secretario-Geral da CUT. "Nossa preocupação hoje e com a questão do emprego. Em 2002, tinham 65 mil metalúrgicos no SBC. Quando o ex-presidente Lula encerrou o mandato, em 2010, o número havia pulado para 110 mil trabalhadores”, relembrou Sérgio.
O sindicalistas afirmou que atualmente esses números regrediram aos 65 mil. “Todos os avanços de emprego conquistados no período Lula nos perdemos. Pior que isso, tem jornada reduzida, companheiros trabalhando 3 dias na semana. Ontem, a Mercedes Benz colocou 1.500 em licença remunerada sem previsão de volta. Nunca vi isso na vida. Empresas históricas estão anunciando fechamento. E isso não é só no ABC", conclui Sérgio.
Segurados especiais
Durante a reunião o governo apresentou os números do déficit previdenciário incluindo gastos com benefícios pagos pela Lei de Assistência Social (LOAS) e demais programas assistenciais na conta da Previdência. O valor apresentado corresponde a 53,6% do total das despesas da União. Mais uma vez o relatório divulgado apontou a Previdência Rural como responsável pelo aumento das despesas. De acordo os dados, a contribuição rural representa apenas 2% da receita total do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), apesar do aumento da produção agrícola, e os benefícios pagos pela aposentadoria rural representaram 22,5% da despesa total em 2015. Esta foi a justificativa usada para discutir o financiamento.
“A própria apresentação do governo, quando mostrou os cálculos aqui, provou que a Previdência é superavitária. Ela só é deficitária quando incorpora toda a seguridade social, onde acrescenta tudo – sistema LOAS, auxílio reclusão, benefícios de saúde. É necessário separar a contabilidade da Previdência para provar o déficit”, declarou Pascoal.
Trabalhador Rural
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alberto Broch, criticou a atitude do Executivo em construir um projeto de reforma extremamente revelante num curto espaço de tempo. “O governo sugeriu que este Fórum debata e construa propostas para a Previdência em 60 dias. Não vamos nos furtar de sentar e discutir. No entanto, a Contag tem uma posição muito clara – não há acordo conosco para tirar direitos do trabalhador rural. Estamos dispostos a contribuir com o debate, inclusive sobre financiamento, sobre o fortalecimento de um sistema previdenciário como o nosso, mas este não é o momento”.
Para Broch, o governo errou a estratégia, ao colocar, nesta conjuntura política, este debate. “Neste momento todo o nosso esforço deve ser voltado para o crescimento econômico, a geração de emprego, para a economia voltar a crescer. Este deve ser o foco central”.