Publicado 26/02/2016 17:06

A cena da dirigente morta, o corpo nu, com sinais de estupro, estrangulamento e perfurações, chocou o país e movimentos sociais de diversos segmentos se mobilizaram em defesa da luta da mulher no campo. Para a presidenta da CTB do Maranhão, Isis Tavares Neves, “O simbolismo desta imagem, é do escárnio de como são tratadas as reivindicações e a luta das mulheres para serem vistas, tratadas e respeitadas na lei e na vida como seres humanos”.
Claudio Daniel, por sua vez, expressou sua indignação como costuma fazer com mestria, através da poesia. Leia na íntegra o poema Retrato IV em homenagem à Francisca, e à luta da mulher camponesa.
Retrato IV
(Francisca Chagas da Silva)
Pedras queimadas
na crueza
do abandono
tuas disformes formas
marcadas
a cutelo.
Pele dispersa
arroxeada
de corpo inânime
esfiapada
entremostrada
em febras
de açougue.
Despejada
na lama,
como dejeto:
um aviso
do quebra-ossos
para que ninguém
reclame.
Mundo
desmundo
de mortes
emudecidas
onde olhos
se fecham
para o flagelo
mais cegos
que a noite
mais cegos
que a morte
de indistintas
estrelas —
apenas os corvos
crocitam,
apenas os corvos
— cachorros do céu —
desenham,
com suas vozes
desconexas
a cena do mais
absoluto
horror.
Claudio Daniel, 2016