O que Evo Morales tem a ver com o discurso de DiCaprio no Oscar

Torcida não faltou para Leonardo DiCaprio levar o grande prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, afinal, esta foi a sexta indicação. A impecável atuação em O Regresso rendeu ao responsável pelo personagem Hugh Glass o prêmio de Melhor Ator. Mas DiCaprio brilhou mesmo foi em seu discurso político, já com a estatueta dourada em mãos.

Por Mariana Serafini

Evo Morales e Leonardo DiCaprio - Sacha Llorenti

Leonardo DiCaprio foi direto, defendeu “os lideres de todo o mundo que não falam em nome das grandes corporações”. O ator atacou o sistema responsável por “ameaçar nossa espécie” sem titubear e provocou o debate sobre o que devemos fazer para preservar o planeta e defender “os povos indígenas e bilhões de pessoas desfavorecidas (…) afogadas pela política da cobiça”.

Em setembro de 2014, durante a Cúpula sobre o Clima da ONU, realizada em Nova York, o ator e o presidente da Bolívia, Evo Morales, fizeram questão de registrar o encontro. Isso porque, o dirigente indígena se encaixa perfeitamente no “líder” descrito por DiCaprio. A admiração pelo comprometimento com os povos indígenas e o combate ao capitalismo pelo viés ambiental não se restringe a Hollywood, no Vaticano também Evo foi elogiado pelo Papa Francisco, que o considerou um dos “mais relevantes do mundo”.

Com esta preocupação, DiCaprio aproveitou seus poucos minutos, com todas as câmeras do mundo voltadas para ele, e rechaçou o papel das multinacionais e da política neoliberal devastadora que destrói não só o meio ambiente, mas as culturas originárias em favor do mercado.

“A mudança climática é real, está acontecendo agora mesmo. É a ameaça mais urgente que a nossa espécie precisa enfrentar. Precisamos trabalhar juntos e deixar de procrastinar. Precisamos apoiar os líderes de todo o mundo que não falam em nome das grandes corporações poluentes, mas sim de toda a humanidade, dos povos indígenas, de bilhões de pessoas desfavorecidas que serão as mais afetadas por tudo isto, das crianças e de tanta gente cujas vozes foram afogadas pela política da cobiça. Eu agradeço a todos por esse prêmio incrível. Vamos dar a esse mundo seu devido valor, o mesmo que eu dou a esta noite”, disse o ator.

O poderoso chefão em defesa dos povos indígenas

Outros atores já aproveitaram o espaço do Oscar para levantar questões políticas. Mas um dos mais ousados sem dúvida foi Marlon Brando, premiado como Melhor Ator em 1973 pelo papel de Vito Corleone em O Poderoso Chefão.


Momento em que Sacheen Littlefeather se recusa a segurar a estatueta e envia o recado de Marlon Brando


Na ocasião o ator se recusou a receber o prêmio e enviou dirigente indígena Sacheen Littlefeather para ler um discurso, escrito por ele, onde criticava o pouco espaço destinado aos povos originários no cinema. A organização do prêmio a proibiu de falar mais de 45 segundos, mas o pronunciamento foi lido nos bastidores, para a imprensa.

Marlon Brando foi o segundo ator a rejeitar o Oscar, antes dele apenas George C. Scott havia recusado o prêmio. Não se sabe qual foi o destino da estatueta do poderoso chefão.