Currículo desmente Valencius que, agora, se declara contra manicômios

Há 81 dias profissionais da saúde mental, usuários do sistema, pais e militantes da lutantimanicomial ocupam a sala da coordenação de saúde mental em Brasília. Eles protestam contra a nomeação de Valencius Wurch, para o cargo. Nesta quinta-feira (3) militantes contestaram declarações dele, feitas a Folha de S.Paulo, onde o psiquiatra diz ser contra os manicômios.De 93 a 98 ele dirigiu o maior manicômio da América Latina, fechado em 2012 por violações aos direitos humanos. 

Pro Railídia Carvalho

Movimento Fora Valencius. Luta antimanicomial 2016
Alyne Alvarez, da comissão de articulação política do Grupo de Alinhamento Político (GAP), que coordena o movimento Fora Valencius, contestou cada uma das informações. “Ele falou uma série de cosias sem pé, nem cabeça mas pra quem não é do campo ele convence”, afirmou. 
Com base na lei de acesso a informação, o movimento vai pedir esclarecimentos ao ministério da Saúde sobre os 142 novos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) que, segundo Valencius, foram criados por ele de dezembro até agora. 
“É uma balela. Não tem nada no diário oficial desde o final do ano passado. Na verdade, pode ser que serviços cadastrados no ano passado tenham sido habilitados agora, o que exigiria apenas a assinatura dele”, esclareceu Alyne. 
Fora Valencius
A nomeação do novo coordenador causou imediata mobilização na comunidade de saúde mental. Em janeiro, no protesto chamado Loucupa Brasília aproximadamente mil pessoas se reuniram na capital federal para protestar. Foram 18 ônibus de diversos estados do Brasil. 
Todo dia 18, em referência ao 18 de maio, que marca o dia da luta antimanicomial, ativistas realizam protestos em todo Brasil que só se encerrarão com a exoneração de Valencius. 
Comissão da Verdade e Frente Parlamentar
Alyne usou trechos da entrevista de Valencius para apontar a incoerência entre a trajetória dele e a política de saúde mental, o que o desqualifica completamente diante do movimento. 
“Ele disse que fez parte do processo de desospitalização da clínica de Paracambi dando alta para as pessoas. Mas a gente sabe que muita gente saiu de lá porque morreu vítima do descaso”, informou.
As mortes e torturas na clínica de Paracambi devem ser objetos de uma comissão da verdade que está sendo debatida pelo movimento que vai iniciar campanha pela instalação. Segundo Alyne, há ainda movimentação pela criação de uma Frente Parlamentar Pró-reforma psiquiátrica. A intenção é que as duas iniciativas sejam anunciadas durante ato no dia 18 de março. 
Falta de legitmidade


A comissão de articulação também deve se encontrar com líderes do PMDB, partido do ministro Marcelo Castro, para pedir apoio para a exoneração de Valencius.

“Ele não tem legitimidade para o cargo. Se ele participou da redação da lei 10.216 da saúde mental, como ele disse na entrevista a Folha, foi contribuindo negativamente para desfigurar o projeto original, que extinguia os manicômios. Ele se posicionou contra o fim dos manicômios”, lembrou Aline.

Ela ainda questionou a posição duvidosa defendida por Valencius na reportagem em relação à política de redução de danos, considerada pelo movimento antimanicomial como um divisor de águas para pensar a política de álcool e drogas. 
“Ele coloca o tratamento como contraponto à política de redução de danos. Ele é bem a favor da política proibicionista. Defendemos que se a política de redução de danos tivesse investimento seria o carro-chefe para a política de álcool e outras drogas”, explicou Alyne.