Parlamentares avaliam manifestações: contra corrupção sistêmica

Os protestos de rua do último domingo (13) em cidades de todo o Brasil foram avaliados pelos parlamentares. Para os representantes da base aliada, as manifestações representam apenas um segmento da população e apontam para a despolitização da sociedade; enquanto a oposição acredita que fortalece o pedido de impeachment da presidenta Dilma, mas não se une em torno de qual melhor solução para substituir Dilma. 

Parlamentares avaliam que manifestações são contra corrupção sistêmica - Agência Senado

Para a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), a maioria daqueles que participaram das marchas em todo o país foram às ruas para protestar contra a corrupção. “Sabem que a corrupção é algo, infelizmente, sistêmico no nosso país, que não atinge somente o centro do poder federal, mas, que de igual forma, está presente nos estados, está presente nos municípios”, disse a senadora.

Ao lembrar de casos de corrupção envolvendo governos do PSDB no estado de São Paulo, como os da merenda escolar e do metrô, Vanessa Grazziotin afirmou que o combate à corrupção, no Brasil, passou a ser vigoroso a partir dos governos do PT, por meio de medidas como a autonomia da Polícia Federal e do Ministério Público.

Quantitativo, mas não qualitativo

A senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) disse enxergar um alto grau de repúdio à política e aos políticos nos protestos, algo que a preocupou. “Os atos apostaram na despolitização, que é algo perigoso e construído dia após dia nos telejornais. A impressão que passa é que o Brasil não precisa de políticos e de partidos. Parece que tirar Dilma, prender Lula e acabar com o PT resolveria tudo”, afirmou.

Para Gleisi, o comparecimento aos protestos foi massivo, mas não representou a pluralidade do povo brasileiro. Segundo ela, em comparação com as manifestações ocorridas em 2015, o aumento de participação foi “quantitativo, mas não qualitativo”.

“Não conseguiram ampliar a base social que tiveram no ano passado. Continuou a ser uma manifestação da classe média tradicional brasileira, branca, com maior escolaridade e capacidade econômica. Onde estava o povo trabalhador e mais pobre? Certamente, assistindo às manifestações, procurando entender a que interesse tudo isso atende”, disse.

Substituição perigosa

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) diz temer que uma eventual derrubada do governo Dilma, através de um processo de impeachment, coloque no poder um grupo político disposto a prejudicar as investigações da Operação Lava-Jato.

“Eu quero chamar a atenção do povo brasileiro para o que significa a tentativa de afastar a presidenta Dilma e assumir o (vice-presidente) Michel Temer e o PMDB. Nós sabemos da relação de proximidade dele com o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha. Esse grupo quer justamente abafar as investigações e interromper a Lava-Jato”, alertou.

Os parlamentares da base do governo afirmaram que não há base jurídica para o impedimento da presidente, e classificaram esse processo como um golpe.

Na Câmara, que não teve sessão plenária nesta segunda-feira, apenas o vice-líder do PT, Wadih Damous (RJ), avaliou as manifestações, que, segundo ele, "tem perfil, como todos viram, mais de classe média, e infelizmente o teor da manifestação era um golpe de Estado, mais ou menos nos moldes da Marcha com Deus pela Liberdade em 1964. Agora, dia 18, haverá participação dos trabalhadores, operários, professores, camponeses, do povo brasileiro", disse.

O governo destacou o caráter pacífico dos protestos e afirmou que a liberdade de manifestação deve ser respeitada. Um ato em defesa do governo e do ex-presidente Lula está agendado para a sexta-feira (18).

Sem solução

Os senadores do PSDB acreditam que as manifestação fortalecem o processo de impeachment, mas divergiram em relação ao melhor caminho a se tomar para a substituição de Dilma. Aloysio Nunes Ferreira, autor de projeto que institui o sistema parlamentarista de governo, fez a defesa da proposta. Já Cássio Cunha Lima disse que a cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a realização de novas eleições seria a alternativa mais democrática.

Romero Jucá ressaltou que, independente do nome ou do partido que governará o Brasil nos próximos anos, tudo que o país não pode é se entregar a um “aventureiro”. Ele disse que, para que isso não aconteça, é preciso que os políticos resgatem a confiança da população, construindo um consenso e dando sinalizações positivas para a sociedade.