Delação de Delcídio escancara seletividade da Lava Jato: Cadê o Aécio?

Ao vazar o conteúdo da delação do senador Delcídio do Amaral, a revista IstoÉ e os demais veículos de imprensa pinçaram do conteúdo trechos que só se referiam ao ex-presidente Lula, à presidenta Dilma e ao PT, como parte da campanha para insuflar os atos realizados no domingo. Mas já circulavam boatos de que nomes de lideranças da oposição, principalmente do PSDB, figuravam entre os citados, o que gerou apreensão no ninho.

Moro, e o aécio?

Agora, com a divulgação do depoimento homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em que Delcídio aponta o envolvimento do senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, em diversos esquemas de corrupção, não há mais como abafar uma investigação contra o tucano.

Do conteúdo da delação, o trecho que se refere à “Lista de Furnas” é o que deixa os tucanos mais preocupados, pois pode atingir toda a legenda.

Delcídio afirmou que a presidenta Dilma Rousseff estancou um duto de corrupção na estatal, que seria operado por Aécio e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados.

O esquema, segundo Delcídio, teria sido comandado pelo ex-diretor de Engenharia da empresa Dimas Toledo, e beneficiado “sem dúvida” o Aécio e o ex-presidente do PP, José Janene, bem como o PT.

Delcídio enfatizou que o “esquema de Furnas (…) era grande”, o que fazia da companhia “a joia da coroa da Eletrobras, sendo a mais cobiçada pelos partidos”. Segundo a delação, a operação foi freada em 2011, quando o engenheiro Flávio Decat, considerado de perfil técnico, assumiu a presidência de Furnas.

“Esta mudança na diretoria de Furnas foi o início do enfrentamento de Dilma Rousseff com [o presidente da Câmara] Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pois este ficou contrariado com a retirada de seus aliados de dentro da companhia”, afirmou o senador.

E completa: “Dilma teve praticamente que fazer uma intervenção na empresa para cessar as práticas ilícitas, pois existiam muitas notícias de negócios suspeitos e ilegalidade”.

Será que investiga?

Fontes dão conta de que a Procuradoria-Geral da República já prepara o pedido de investigação. Segundo a Folha de S. Paulo, investigadores avaliam preliminarmente que deve ser pedida abertura de inquérito contra o tucano.

Na delação, Delcídio afirmou que Aécio recebeu propina de Furnas, empresa de economia mista subsidiária da Eletrobras. Ele também disse que no caso na CPI dos Correios, que investigou o mensalão, Aécio teria atrasado o envio de dados do Banco Rural para fazer uma “maquiagem” nas informações.

“A maquiagem consistiria em apagar dados bancários comprometedores que envolviam Aécio Neves, Clésio Andrade, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Marcos Valério e companhia”, afirmou Delcídio na delação.

Em nota, Aécio usou a estratégia de fuga de sempre: trata-se de um complô do PT para envolvê-lo na Lava Jato. No entanto, quando se trata das citações contra os outros, vale.

Aécio disse que Delcídio mente e que seus depoimentos não “se sustentam na realidade e se referem apenas a ‘ouvir dizer’ de terceiros”. Ora, boa parte dos depoimentos da Lava Jato são com base nesse “ouvi dizer”. Até mesmo a ação do Ministério Público de São Paulo contra o ex-presidente Lula para atribuir um apartamento que não é seu foi construída somente com o depoimento de quem ouviu dizer.

A situação de Aécio já está tirando o sono dos tucanos. De acordo com fontes da imprensa, a citação de Delcídio prejudica neste momento o discurso de todo o partido.

Diante disso, os tucanos adotaram a estratégia de obstruir toda iniciativa do Planalto do Planalto, manter o Congresso Nacional sob pressão e a opinião pública focada no impeachment.

Aliados de Aécio, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do senador José Serra, que postulam a vaga de 2018, avaliam que os fatos colocam o PSDB na mira da Lava Jato, pois o depoimento atropelou a intenção de deixar só o PT no alvo.