Delator diz que um terço da propina de Furnas era do Aécio

Depois de desdizer o que disse e afirmar que recebeu ameaça velada, deixando o seu acordo de delação premiada sob risco, o lobista Fernando Moura concedeu novo depoimento ao juiz Sérgio Moro nesta quarta-feira (3) e disse que Furnas era uma estatal controlada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), e que o esquema de propina se assemelhava ao instalado na Petrobras: "É um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio", afirmou.

Aécio Neves

A afirmação segue o rito das delações feita nas investigações da Lava Jato: eu ouvir dizer, fulano me disse, eu acho que. Ainda assim, Moura disse, ter ouvido relato de uma suposta divisão de propina proveniente da estatal Furnas envolvendo o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Apesar disso, diferentemente do que faz quando os citados são ligados ao PT, a informação não ganhou destaque nas manchetes da grande mídia.

No depoimento, Moura diz que em reunião realizada em 2002 para a escolha de nomes para a diretoria de diversas estatais. Dimas Toledo, segundo ele, teria sido indicado por Aécio para Furnas.

Ainda de acordo com Moura, Toledo, ao assumir a diretoria, afirmou que "em Furnas era igual", referindo-se a esquema de propina. "Ele disse: 'Não precisa nem aparecer aqui. Vai ficar um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio'".

Depois do depoimento de Moura apresentar contradições, Sérgio Moro ameaçou de romper oacordo de delação premiada. Moura disse que as contradições aconteceram porque estava se sentindo ameaçado, sem citar nome ou causa.

Em nota, o PSDB definiu como "absurda" a citação a Aécio e disse que se trata de uma "tentativa de vincular o PSDB” na Lava Jato. “O senador Aécio Neves não conhece o lobista, réu confesso de diversos crimes, e tomará todas as providências cabíveis para desmontar mais essa sórdida tentativa de ligar lideranças da oposição aos escândalos investigados pela Operação Lava Jato", afirmou.

Não é a primeira vez que delatores apontam Aécio como responsável pelo esquema de propinas na Lava Jato. Sobre o esquema de Furnas, Aécio já havia sido citado pelo doleiro Alberto Youssef como responsável por um mensalão em Furnas.

Em agosto do ano passado, durante depoimento na CPI da Petrobras, quando questionado se tinha informações de que Aécio teria recebido dinheiro de propina relativa a contratos da estatal Furnas, ele respondeu: “Eu confirmo por conta do que eu escutava do deputado José Janene que era meu compadre e eu era operador". O deputado Janene, do PP, morreu em setembro de 2010.

Já o delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) recebeu R$ 300 mil de um diretor da UTC Engenharia, uma das empresas investigadas na Operação Lava Jato.

Dois executivos da construtora mineira Andrade Gutierrez, uma das integrantes do cartel de empreiteiras investigadas pela Lava Jato, apontam o envolvimento direto das principais lideranças do PSDB.

Apesar disse, nenhuma investigação foi aberta contra o senador tucano e nem a imprensa dá muito destaque para tais citações. Mas sobre o imóvel que Lula poderia ter comprado, e um barco dado como presente pela sua esposa, sem apresentar qualquer indício de irregularidade ou crime, a imprensa gasta bastante tinta.