O Estado policial no Brasil

“Se espionam a presidência da república e ninguém se escandaliza, ninguém mais está a salvo”, sentenciou o escritor Urariano Mota, colunista da Rádio Vermelho, em artigo publicado nesta quarta-feira (16) no Portal Vermelho.Ele chama a atenção para “a invasão dentro do Poder Executivo”, confirmada com os vazamentos desta quarta..Para Urariano a Polícia Federal, personificada em Sérgio Moro, além do “papel de um Estado Policial”, também “interpreta à sua maneira o que grava”.

Por Urariano Mota

Moro e a grande mídia

Confira abaixo o artigo na íntegra

As mais recentes notícias de quebra do sigilo telefônico da presidência da república, feitas a partir da direita em Curitiba, Sérgio Moro e polícia federal, causam espanto e indignação. Não bem pelo teor divulgado em primeiríssimo lugar pela Globo, a mídia de preferência da República de Curitiba. Ou seja: : 
 
“- Dilma: Alô
– Lula: Alô
 
– Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.
 
– Lula: Fala, querida. Ahn
 
– Dilma: Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!
 
– Lula:  Uhum. Tá bom, tá bom.
 
– Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.
 
– Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.
 
– Dilma: Tá?!
 
– Lula: Tá bom.
 
– Dilma: Tchau.
 
– Lula: Tchau, querida. “
 
Não por isso. O escândalo, que os comentaristas da mídia passam por cima, escondem e sequer mencionam, é a maior ilegalidade: a quebra de sigilo de um presidente da república,  a exposição pública de telefonemas da presidenta Dilma Roussef.  O que é isso? 
 
Já antes, quando houve a quebra ilegal do sigilo de José Dirceu, já se havia visto. A partir da análise geográfica da longitude e latitude das áreas abrangidas pela quebra de sigilo, constatou-se que numa das coordenadas estava o Palácio do Planalto – o que representou  violação ao direito de privacidade da sede do Poder Executivo.  Na ocasião, o cientista político Luís Cláudio Guimarães alertou:  
“O caso grave é que em função de uma investigação se pediu, de forma atabalhoada e sem critério, a quebra de sigilo de telefones que estavam funcionando dentro do Palácio do Planalto e isso representa uma invasão dentro do Poder Executivo”. 
 
Já ali, penetrava-se na sede do governo brasileiro, da mais alta autoridade do país. E não houve a grita e clamor necessários, na quebra do sigilo das comunicações do governo. Hoje, diante do escândalo abusado, pornográfico, que os comentaristas da chamada grade mídia não veem, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da Repúblcia destaca em nota: 
 
“4 – Assim, em que pese o teor republicano da conversa, repudia com veemência sua divulgação que afronta direitos e garantias da Presidência da República.
 
5  – Todas as medidas judiciais e administrativas cabíveis serão adotadas para a reparação da flagrante violação da lei e da Constituição da República,  cometida pelo juiz autor do vazamento. “
 
Ao que acrescento: a polícia federal, auxiliar do ditador de Curitiba, tudo pode. Espionar, prender, coagir, chantagear, iludir e escarrnecer. Mas ganhou, além da ilegalidade de um Estado Policial, o papel de novo oráculo da imprensa. Além de espionar qualquer um, inclusive a presidência, a polícia  interpreta à sua maneira o que grava. Isto é, conforme o objetivo de derrubar Dilma, cercar e prender o ex-presidente Lula. 
 
Onde chegaremos? Pior, onde foi que chegamos? É hora de um vigoroso movimento da opinião democrática e civilizada, de todos os cidadãos, povo, intelectuais e artistas, para que não se caia de vez no fascismo, que deixou de ser uma ameaça no Brasil. O fascismo é presente nos despachos e decisões  do juiz Sérgio Moro, ações da polícia federal, avanço da direita no congresso e na grande imprensa. Ou nos movemos agora ou não teremos quem nos lamente ou proteste quando chegar a nossa hora. Se espionam a presidência da república e ninguém se escandaliza, ninguém mais está a salvo. Todos democratas somos ou seremos criminosos, se o juiz Sérgio Moro achar. Aguardaremos passivos a nossa prisão?