Os cérebros do golpe contra Dilma, Lula e a democracia

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes teve, em Brasília, capital da República, uma sessão gastronômica, política e de conspiração com o senador José Serra (PSDB-SP), além de Armínio Fraga, economista de linhagem neoliberal. Primeiro passo.  

Por Renato Dias*, no DM

Os golpistas

O segundo ato da tragédia: o homem da corte suprema do Brasil impediu, com uma sentença, a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil e despachou o processo do ex-operário metalúrgico para Curitiba (PR). O ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) anunciou, na manchete da última segunda-feira (21), ao jornal O Estado de S. Paulo, os critérios do eventual governo de Michel Temer (PDMDB-SP), assim como informou o que o velho cacique peemedebista poderia ou não fazer quando subir a rampa do Palácio do Planalto, em 2016. Já o ex-presidente do Banco Central (BC) fez a autópsia à Folha de S. Paulo de uma economia de terra arrasada. Tudo amarrado.

A escalada do golpe contra a presidenta da República, Dilma Rousseff, ex-guerrilheira da Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR-Palmares), está em operação com ramificações no Poder Judiciário, Procuradoria-Geral da República, Câmara dos Deputados e no Instituto Fernando Henrique Cardoso – Instituto FHC. Além do impeachment, o script conteria a prisão do ex-presidente da República e fundador do PT, legenda nascida em 10 de fevereiro de 1980 e que ganhou oito eleições presidenciais consecutivas – 1º e 2º turnos de 2002, 2006, 2010 e 2014 – e que poderá completar 16 anos de poder em 2018. O tsunami golpista quem sabe colocaria na ilegalidade, além do PT e do PCdoB, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Sem -Terras (MST), liderado pelo economista João Pedro Stédile, e até o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

Michel Temer, dublê de mordomo de filme de terror, ensaia anunciar a ruptura com Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, determinaria o voto das bancadas do PMDB na Câmara Federal e do Senado da República a favor do impedimento. Mais: tentaria salvar a pele de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atual presidente da Câmara dos Deputados, integrante da sigla e réu da Operação Lava Jato. O vice que se tornaria presidente da República já arquiteta um governo de coalizão com o PMDB, o PSDB, o Democratas, o PPS, além de legendas nanicas e membros do “baixo clero” do Congresso Nacional. Com três acordos pré-celebrados: Primeiro, a aprovação de uma emenda, que havia sido criada em 1997 para beneficiar PSDB & FHC, que acabe com o instituto da reeleição. Segundo, Michel Temer não poderia disputar a reeleição em 2018, nem influenciar o pleito de 2016. Terceiro, dar projeção a José Serra para a sucessão de 2018.

Tudo certo

A operação até agora está dando certo. Lula não assumiu e pode não assumir mais a Casa Civil. Luiz Facchin, ministro do STF, deu de ombros para a crise que abala a República e lavou as suas mãos. Rosa Weber, ministra da Suprema Corte, manteve a decisão de Gilmar Mendes. Um incidente que talvez possa provocar fratura no PSDB é considerado um mal menor: o senador Aécio Neves seria rifado. As cinco delações envolvendo o presidenciável tucano derrotado em 2014 por Dilma Rousseff atrapalharia o suposto discurso de ética na política e vassoura para a corrupção entoado pelo movimento golpista. É o velho filme já exibido na crise que levou ao suicídio de Getúlio Vargas, pai dos pobres e fundador do nacional-estatismo “patropi”, em 24 de agosto de 1954, e reprisado no golpe de Estado civil e militar de 1º de abril de 1964. Uma noite que durou exatos 21 anos, como apontam Camilo Tavares e Flávio Tavares, em celebrado documentário nacional.

– É a economia, estúpido!

Armínio Fraga seria o ideólogo da política macroeconômica. A estratégia é implantar o Estado Mínimo. Os direitos dos trabalhadores virariam letra morta. Estatais estratégicas, privatizadas. O pré-sal, aos EUA. Navalha na carne nas políticas públicas compensatórias inauguradas por Lula e mantidas e ampliadas por Dilma Rousseff. Uma integração cada vez mais subordinada no mercado globalizado. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal seriam vendidas. O farto crédito aos consumidores que permitiu expandir o mercado interno pararia na lata de lixo da história. A flexibilização das leis trabalhistas está na agenda econômica de Michel Temer, José Serra e Armínio Fraga. Sabe quem poderá voltar para a Esplanada dos Ministérios? Ele mesmo! O príncipe dos sociólogos Fernando Henrique Cardoso, enrolado, hoje, até a medula no escândalo dos repasses supostamente ilegais para a amante, a jornalista Mírian Dutra, ex-Globo, com quem teria tido um relacionamento de seis anos.

– A concessão da Globo vai ser renovada e gordas verbas publicitárias da União iriam para os cofres da emissora do clã Marinho!

Hegemonia do capital

Os lucros do capital financeiro não sofrerão cortes. O agronegócio nadará de braçadas. As corporações transnacionais ampliarão o seu poder de fogo na economia verde e amarela. Movimentos sociais serão criminalizados. Basta ver a malfadada proposta de lei antiterrorismo.

Em exercício arbitrário de análise poder-se-ia imaginar como Gilmar Mendes, José Serra, Armínio Fraga, Fernando Henrique Cardoso e mesmo Michel Temer se permitiram deixar um componente da senzala ocupar por anos & anos a Casa Grande? Uma coisa é certa: Marilena Chauí acerta quando diz que a classe média no Brasil é fascista. O último dia 13 de março de 2006 e o clamor pela volta dos militares à cena política servem para ilustrar a análise da filósofa da Universidade de São Paulo (USP). Nada mais atual também do que a frase emblemática do ex-ministro da Educação Jarbas Passarinho, na calada da noite do sombrio dia 13 de dezembro de 1968:

– Às favas todos os escrúpulos de consciência!

Gilmar Mendes opera no Judiciário e José Serra seria uma espécie de superministro;
Fernando Henrique Cardoso já estaria cotado para a Esplanada dos Ministérios;
Armínio Fraga aceleraria privatizações e cortes de direitos econômicos e sociais;
Michel Temer acabaria com a reeleição e ‘sairia do páreo’ nas eleições de 2018.