31 de março em São Paulo renova espírito de resistência da Sé  

A praça da Sé voltou a ser lugar de resistência democrática em São Paulo. Nesta quinta-feira (31) um ato político e musical reuniu, no marco zero da capital paulista, cerca de 50 mil pessoas para denunciar o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. A Sé foi tomada pelo movimento social, coletivos culturais e diversas manifestações que indicaram que o espírito de atos, como o do movimento Diretas Já, se mantêm vivo e renovado. A organização foi da Frente Brasil Popular.

Por Railídia Carvalho

Diretas na Sé nos anos 80 e ato pela democracia em 2016 - Ricardo Stuckert/Instituto Lula e a Arquivo

Izabel Donatti Bracco participou da manifestação com a Batucada da Resistência, grupo de sambistas que desde dezembro do ano passado participa das manifestações contra o impeachment. A memória dos comícios pelas Diretas Já, que aconteceram na Sé, e foram vivenciados por ela, agora com 68 anos, ainda a emocionam.

“Isso aqui tava entupido. E dói muito ver que aquilo tudo que a gente batalhou tá correndo risco. Nós batalhamos para votar pra presidente, batalhamos pela constituição, que está sendo vilipendiada. Eu não quero nada mais do que o combate a corrupção, à toda a corrupção e uma justiça imparcial. E é isso que eu não vejo e é por isso que eu estou aqui”, explicou.
Na opinião de Raimundo Bonfim, presidente da Central de Movimentos Populares, que integra a Frente Brasil Popular, núcleo organizador do ato, a Sé voltou a ser palco de resistência. 
“É uma onda ocorrendo no Brasil. E a praça da Sé tem muito peso na luta democrática e estar aqui hoje, 31 de março, resistindo, quando se comemora o aniversário do golpe é muito simbólico”, afirmou. 
O subprefeito da praça da Sé, Alcides Amazonas, que participou do ato, lembrou que a manifestação é um recado ao congresso nacional. “A mobilização do povo nas ruas vai barrar o impeachment”, afirmou. Amazonas ressaltou que esse ato só poderia acontecer na praça. “A Sé recebeu eventos memoráveis de resistência. O ato de hoje só vai fortalecer o estado democrático”, declarou. 
Povo na rua é pressão no congresso
A vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, lembrou que a mobilização nas ruas é fundamental para ecoar entre os deputados do congresso nacional que vão votar o impeachment. Nádia chamou a comissão de fraudulenta e disse que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), deveria ter sido cassado.
 
“Os nossos deputados estão lutando para mostrar a fraude que é essa comissão e o processo do impeachment. Vamos lutar nas ruas para mostrar ao congresso, aos parlamentares, para mídia que nós nas ruas não vamos deixar passar o golpe”, discursou Nádia.
Na opinião da presidenta do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, a população acordou. “E está dizendo não aceitamos o golpe e quer avançar rumo à democracia com direitos sociais garantidos”, ressaltou. “Este ato é a demonstração daqueles que querem paz contra os que estão fomentando o ódio. Queremos paz mas não fugimos da luta”, completou Socorro.
 
Governo para todos os brasileiros


O pastor evangélico Luciano Luna, que participa do setorial intereligioso do Partido dos Trabalhadores de São Paulo, esteve no ato exibindo uma camisa, que ele próprio mandou confeccionar com os dizeres “Eu sou evangélico. Voto Dillma”.
O grupo do qual ele faz parte atua dentro de uma concepção política de esquerda. Segundo ele nem todos os evangélicos estão contra Dilma. 
“Eu voto Dilma, voto Lula, sou a favor do governo, a favor da justiça, da igualdade e da liberdade”, declarou. Luciano disse ainda que em temas como homofobia, direito ao aborto, o grupo defende que é preciso respeitar e garantir o direito daqueles que pensam diferente.
A trabalhadora ambulante Eliade Ribeiro, que estava no ato vendendo bebidas, elogiou a manifestação. Segundo ela “estava muito lindo e que torce pela Dilma e que é uma injustiça o que estão fazendo com a presidente”.
Eliade trabalhava como doméstica até ser demitida quando o patrão se recusou a assinar a carteira e pagar os direitos assegurados por lei sancionada por Dilma em 2014. “O patrão falava na minha cara, enquanto eu cozinhava pra ele, que empregada doméstica não tem direito a ganhar nada. O que ela (Dilma) fez foi muito legal dando direito para as empregadas domésticos”, elogiou Eliade.
Em todo o Brasil as universidades públicas se tornaram símbolos de resistência ao golpe. Um grupo de alunos e professores da Universidade de São Paulo levaram uma faixa “USP contra o golpe”. 
Jader Muniz, estudante do doutorado em letras da USP, afirmou que a disputa nas ruas pode influenciar a decisão dos parlamentares que vão votar o impeachment. “Acho que existe uma disputa que se dá nas ruas e influencia no congresso porque os parlamentares tem que dar satisfação as bases deles”, avaliou. 
Ele defendeu que o ato deve ser popular mas ressaltou a importância da presença da universidade.“A universidade identificada dentro deste ato serve para legitimar as ideias contra o impeachment diante da opinião pública”.
 
Eliade trabalhando no ato