Walter Sorrentino: Novos marcos na luta política
Neste 17 de abril de 2016 haverá o desfecho de uma das batalhas mais importantes de uma guerra prolongada, a radicalizada luta política de classes no Brasil. Batalha cujo resultado tem sentido estratégico para a causa da democracia e, com ela, os interesses do povo e da nação. Qualquer que seja o desfecho a luta seguirá, mas terão se alterado vivamente as condições das forças em luta.
Publicado 17/04/2016 12:54
Não é o caso de examinar cenários alternativos pós votação do impeachment na Câmara dos Deputados neste momento. É o caso, sim, entretanto, de registrar que as condições de luta da esquerda política e social no país, junto a amplas forças democráticas e progressistas, se alterou decididamente. Tal fato é um poderoso ativo político para levar a cabo a refundação da governabilidade com Dilma se vencer a causa democrática, ou levantar um poderoso movimento de oposição a um governo ilegítimo e ilegal acaso oriundo de um fraudulento impeachment nas próximas semanas.
Desde as jornadas de 2013, passando pelo segundo turno das eleições de 2014, e com forte salto neste período de 2015/2016, o movimento social, junto às forças da esquerda, alcançaram uma nova e mais elevada politização. Estiveram em debate matérias essencialmente de Estado, de seu caráter conservador, lidando com o poder político e suas instituições e sua reforma inevitável para poder seguir adiante na luta por um projeto nacional,. A Constituição de 1988, conquista relevante da luta democrática, jamais foi tão defendida pelas forças populares, como marco ainda referente para a luta democrática, atacado pelas forças golpistas
Houve lições de tática e estratégia que levaram, em meio a naturais controvérsias, à firme conclusão de unidade de ação em torno da formação de uma ampla frente democrática no país. No centro estabeleceu-se a esquerda política e social com forte protagonismo, dando mais uma vez aos movimentos sociais, na nossa história, uma perspectiva diretamente política, sem a qual não se alcançam as conquistas populares. Lições de que é meridiana a necessidade de estabelecer com acuidade as condições de força entre os campos em disputa, formular bandeiras e formas de luta amplas e ao mesmo tempo radicais, o que encontrou sua máxima expressão com o “Não vai ter golpe!” e uniu em torno de si vastos setores da sociedade.
Igualmente, alcançou-se um novo patamar de unidade política de ação da esquerda brasileira, em meio à natural unidade e luta no seu seio. A força principal dela é um novo bloco de afinidade nucleado pelo PT e PCdoB e os combativos movimentos sociais organizados (com os quais vencemos quatro eleições presidenciais consecutivas), e segmentos de outras forças como o PDT, inserções sociais ligadas ao PSB e outras, o que é promessa de uma reconformação da esquerda como esperança renovada no plano da condução política, programática e organizativa para o projeto em curso desde 2003.
Tão importante quanto isso tudo é também a reaproximação promovida entre esse bloco com o sentimento progressista de vastas parcelas médias urbanas dos grandes centros, o qual havia se dispersado ou desiludido nestes últimos anos. É impressionante o movimento que levou a 400 manifestos de largos setores e personalidades da sociedade civil, da consciência jurídica democrática brasileira, das entidades de classe, do mundo artístico e cultural. O terreno foi semeado com novo adubo.
Pode-se dizer que as esperanças residem nessa unidade, numa estratégia política frentista e numa nova geração de medidas programáticas para retomar um projeto nacional soberano, altivo, democrático e de forte componente social.
Os desafios, de certo modo, são maiores ainda que antes, porque o nível da luta política se elevou e as conquistas dos treze anos de governo exigem novo alcance em reformas estruturais. Antes, ainda, será preciso esgotar por completo a condição defensiva atual, derrotando o golpismo em toda a linha.
O PT é parte indispensável desse ativo. A liderança de Lula um trunfo vigoroso, como o melhor intérprete dos interesses e do que vai na alma da maioria do povo brasileiro. Nos desafios em perspectiva, a capacidade desse partido em fazer uma narrativa crítica e autocrítica sobre seu papel como força principal do ciclo em curso e hoje ameaçado, é incontornável, para não se isolar no petismo, dispondo-se, quiçá, a revisar a estratégia política com que se conduziu.
O PCdoB alcançou compreender a natureza mais essencial da batalha em curso já na Conferência realizada em maio de 2015, apontando para a emergência de ampla frente democrática contra o golpe, e essa foi a tônica do que ocorreu desde então. Com maturidade política, presença destacada no movimento social, coerência, coragem e determinação política desveladas na condução das batalhas no parlamento, nas ruas e nas redes, fez-se maior, alcançou reconhecimento e respeito mais amplos em todo o arco político do país.
Com uma nova mas experiente direção, sob a condução de Luciana Santos, lideranças como o governador Flávio Dino, a deputada Jandira Feghali, o Ministro Aldo Rebelo, a Senadora Vanessa Grazziotin, entre outras, são a expressão concentrada de uma militância aguerrida, unida e combativa. O importante é que seu fortalecimento avaliza a constituição de um bloco político e social de afinidade da esquerda e das forças progressistas no país, que extrapole a experiência recente.
O fato novo é que tudo isso resulta num ativo político poderoso e de enorme valor estratégico, qualquer que seja o resultado da batalha de hoje dentro da guerra política em curso. Acresce a isso o fato de poder se defender um legado vigoroso de feitos por estes quatro governos em prol da nação e do povo brasileiro. Legado que, considerando erros e acertos, é combatido pelos êxitose deve manter de cabeça erguida cada um dos militantes da grande causa popular.
Prepararam-se, assim, as condições para travar a luta dura e prolongada em curso, na qual a votação deste domingo não constitui o desfecho da crise.
Walter Sorrentino é vice-presidente nacional do PCdoB