Golpistas já falam em "anistia" para corrupção de Cunha

No dia 2 de dezembro de 2015, o Conselho de Ética da Câmara dos deputados aprovou por 11 votos a 9 o parecer pela continuidade do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Naquela data os jornais já apontavam a chantagem de Cunha contra a presidenta Dilma Rousseff e diziam que o presidente da Câmara ameaça retalhar com a abertura do processo de impeachment.

Eduardo Cunha tranquilo - Reprodução/Globo

Os discursos de parlamentares pelo “sim” ao golpe e o resultado da votação deste domingo (17), evidenciaram o caráter da manobra de Cunha, que é réu na Lava Jato, acusado por vários delatores de ter recebido propina.

Em setembro de 2015, disse que as pedaladas fiscais supostamente cometidas pelo governo não seriam suficientes para a abertura de um processo. Ele chegou a dizer também que não se pode “utilizar o impeachment como recurso eleitoral”.

Bastou o seu processo avançar, por conta das graves denúncias do Supremo Tribunal Federal, e o governo não ceder as suas chantagens para Cunha posicionar o canhão contra o mandato da presidenta.

Até mesmo o jurista Miguel Reale Junior, um dos autores do pedido de impeachment, reconheceu que Cunha aceitou o pedido por chantagem. “Não foi coincidência que Cunha tenha decidido acolher o pedido no momento em que deputados do PT decidiram votar a favor de sua cassação no Conselho. Foi uma chantagem explicita”, disse.

Por atender os interesses da oposição e da grande mídia, Cunha recebeu uma espécie de “indulto”. "Eduardo Cunha está presidindo muito bem, e o fato de ele ser um réu do STF em nada prejudica seu trabalho", afirmou o deputado Carlos Marun (PMDB-MS).

“O juízo da casa é um juízo político, de conveniência e oportunidade”, afirma o deputado Osmar Serriglio (PMDB-PR), em entrevista ao El País

Um dos aliados mais fiéis, o deputado Paulinho da Força (SD-SP), disse: “Ele ganhou força, graças a ele o impeachment passou”. Para Paulinho, muitos deputados passarão a ver “com maior simpatia” a ideia de não punir Cunha.

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, afirmou considerar um paradoxo o fato do processo do impeachment ser conduzido por um parlamentar acusado de graves delitos. “Inclusive, ele próprio presidiu a sessão de hoje, impedindo que a defesa falasse por último e não escondendo a satisfação de julgar um processo que ele é o autor direto do início ao fim”, salientou o minsitro.

Diante do cumprimento de parte do acordo –a provar o impeachment -, aliados de Cunha já não escondem que o jogo agora é minguar o processo junto ao Conselho de Ética. Marun já diz que o processo “não vai dar em nada, uma vez que o Cunha tem maioria lá”.

Segundo ele, Cunha deve receber pena branda no Conselho, pois as "omissões ou mentiras" de Cunha sobre as contas na Suíça, são graves, mas não passíveis de cassação. Ele defende que a suspensão do mandato é uma das possibilidades de punição a ser votada no Conselho.

A dança das cadeiras para favorecer Cunha não para. O deputado Fausto Pinato (PP-SP) renunciou à sua vaga no Conselho e foi substituído por Tia Eron (PRB-BA). Ao declarar o seu voto pelo golpe, Eron fez questão de manifestar publicamente a sua "admiração" pelo presidente da Câmara.

Como a votação desfavorável a Cunha foi por uma diferença de um voto, a saída de Pinato, que era um dos contrários ao peemedebista no colegiado, pode indicar uma mudança na votação do parecer final.

Apesar de fazer um discurso contra a corrupção ao declara o voto pelo “sim” ao golpe, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) não escondeu que “essa grande maioria” dos votos seria favorável a ignorar as denúncias de corrupção por lavagem de dinheiro contra Cunha.

Segundo ele, a hipótese discutida não é de uma anistia formal, mas apenas uma espécie de “esquecimento do caso”. “Acho que daqui a um mês, dois meses, ninguém vai querer saber de mais nada”, disse.