Cientista russo: o que estão fazendo no Brasil é uma vergonha
No meio da grave crise política que afeta atualmente toda a nação brasileira, o doutor em Ciências Históricas e professor de Estudos Americanos da Universidade de São Petersburgo, Lázaro Heifetz, avalia as perspectivas do impeachment no Brasil, com exclusividade para a agência Sputnik.
Publicado 19/04/2016 19:19

A chancelaria russa emitiu um comunicado sobre as relações entre o Brasil e a Rússia, articulado por Maria Zakharova. Segundo a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores, a Rússia acompanha atentamente a situação no Brasil. “Esperamos que os problemas que possam surgir neste período sejam solucionados no âmbito do Direito Constitucional, sem intervenções externas”, acrescentou ela.
Confira a íntegra do comentário de Lázaro Heifetz:
“É realmente uma tentativa de golpe de Estado usando instrumentos democráticos. Não é bom para o Brasil. Você sabe, uma vez o presidente Nixon disse: ‘Para onde o Brasil for, o resto da América Latina irá’. Se a oposição, os adversários da Dilma Rousseff e de Lula da Silva, querem continuar o caminho da América Latina desta maneira, isso significa que eles indicam o caminho da ilegalidade. Recentemente, os organismos internacionais da América Latina atuaram de uma certa forma, na base da continuidade, para acabar com tais tentativas. Por exemplo, durante o golpe de Estado em Honduras contra Manuel Zelaya, a participação de Tegucigalpa na ONU foi suspensa. A mesma tentativa de golpe constitucional no Paraguai, quando o presidente Fernando Lugo foi derrubado, também levou à suspensão do país no Mercosul. Neste caso, se continuar a linha, o Brasil, será sujeito a um sério teste.
O procedimento, na verdade, não é tão simples. Não é o afastamento do governo de Dilma do poder. É a suspensão de seu mandato durante 180 dias, em que a polícia federal vai procurar as provas para confirmar as acusações contra ela. Aqui nos vemos o problema: a oposição quer declarar o impeachment, sem provas de qualquer crime. Ela está ligada a crimes ocorridos, mas indiretamente. Na verdade, todas as provas são indiretas. O que é mais engraçado e mais trágico é que o vice-presidente Michel Temer que, no caso de impeachment, vai assumir a presidência, será acusado dos mesmos crimes. E contra o iniciador do impeachment, o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, também existem as mesmas acusações, que, na verdade, foram apresentadas ainda antes de o serem contra Dilma ou Michel. Se seguirmos esta lógica, vamos admitir que Dilma Rousseff seja corrupta. Consequentemente, o vice-presidente também é corrupto e o presidente da Câmara dos Deputados também. Então, o que nos temos no final de contas? Uma mudança dum corrupto, por outro? Neste caso qual é o motivo deste procedimento?
A presidência será assumida por Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Se decidirmos afastar todos do poder, então, deveríamos demitir o vice-presidente também. Você sabe que, até aos últimos acontecimentos, existia uma forte coalizão no governo. Era o Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma Rousseff, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Michel Temer e vários partidos menores, que entraram na coalizão nos tempos do primeiro mandato de Lula. E, na minha opinião, o que Dilma Rousseff está dizendo, que é uma conspiração, um golpe, uma traição por parte de Temer, para mim, na verdade, corresponde à realidade. Seria lógico, já que você chegou ao poder junto com Dilma Rousseff, sob uma única bandeira, que todos renunciassem: deputados e senadores. Que fossem declaradas eleições antecipadas. Do meu ponto da vista, o que os ex-parceiros de coalizão de Dilma Rousseff estão fazendo é uma vergonha. É, simplesmente, desprezível”.