Professora negra recebe medalha em MG: "sou a prova de um novo Brasil"

"É uma vitória muito grande. É um reconhecimento da mulher negra na minha pessoa. Então, eu falo que essa medalha não é só minha, é dessa geração que, com mais oportunidades, tem conquistado o acesso a direitos e a políticas públicas ao largo desses últimos 12 anos." Luana , que trabalhou dos 13 aos 18 anos como empregada doméstica, é hoje professora de História. Ao lado de desembargadores, médicos, empresários, ela recebeu a maior honraria do estado de Minas Gerais, a medalha inconfidência. 

Luana medalha inconfidência - Leo Rodrigues/ Agência Brasil
Luana era visível em meio aos agraciados não só pela sua origem humilde, mas também por questões de raça e gênero. "Geralmente, quem costuma ganhar essa medalha são juristas, empresários, políticos e, em sua grande maioria, homens brancos. Ou seja, a minha figura destoa de tudo ienhor secre´tairosso. Eu venho de família humilde, sou negra e sou mulher. Eu sou a prova de que um outro Brasil vem sendo construído com novos protagonistas", disse.
Brasil de oportunidades
 
Quando entrou na universidade há 12 anos, Luana Tolentino não contou com a ajuda de nenhum programa social voltado para a educação. "Na minha época, ainda não havia o ProUni e o Fies não tinha as características que têm hoje. Você precisava devolver um valor muito alto". Para dar conta da mensalidade do Centro Universitário Uni-BH, ela arrumou um emprego no setor comercial. Hoje, no entanto, ela vê um Brasil mais maduro para permitir que pessoas como ela obtenham sucesso. "Há mais oportunidades", confessa.
Golpe
No entanto, ela se preocupa com o futuro do país e, historiadora, não hesita em fazer um diagnóstico da conjuntura atual. "É duro ver um processo democrático ruir. É isso que está acontecendo. Nós temos uma presidenta que recebeu 54 milhões de votos. Podem usar diversos subterfúgios, falar sobre corrupção, mas na verdade é um golpe, não tem outro nome".
Poucos negros
Professora do ensino fundamental na Escola Municipal Bárbara Maria Salomão, Luana também encontrou na cerimônia outros 12 docentes. A maioria, porém, atua no ensino superior. Negros como ela eram poucos, geralmente aqueles que também superaram as mais variadas adversidades.
 
Como Arthur de Oliveira Abrantes, de Paracatu (MG), que sempre estudou em escola pública e agora, aos 18 anos, foi aceito em sete universidades dos Estados Unidos e se prepara para ingressar em Harvard, onde receberá uma bolsa de estudos. Ou como o rapper Flávio Renegado, que saiu da periferia de Belo Horizonte no bairro Alto Vera Cruz, para fazer sucesso por meio da música.