Testemunhas da propina da Alstom no governo tucano são ouvidas

Nesta terça-feira (3), a Justiça Federal ouviu os depoimentos da acusação do caso da Alstom no esquema de propinas junto ao governo tucano de São Paulo. O Ministério Público Federal denunciou 11 pessoas pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção de funcionários públicos do estado.

Trensalão Alstom

A primeira a depor foi Vânia, ex-mulher do acusado Romeu Pinto Jr., que reconheceu ter sido sócia de uma empresa do então marido. A empresa era usada para fazer o pagamento da propina, segundo investigações. Apesar disso, ela afirmou que não sabia o que tinha assinado porque o documento estava em inglês.

Outra a depor foi Edna Flores, que foi secretária de Jorge Fagalli Neto, também indiciado. Edna relatou que Jorge tinha hábitos como o de pagar todas as contas em dinheiro vivo. Questionada sobre quais contas eram pagas em dinheiro, ela disse: “Conta doméstica, conta de casa, IPTU, água, luz, faculdade do filho, condomínio, essas coisas. Mas são contas altas, o condomínio onde ele mora custa R$ 2,5 mil”.

O procurador Rodrigo de Grandis comentou os depoimentos. “O MPF tem a clara conclusão de que o depoimento foi muito bom. Responsabilidade penal de Jorge Fagalli”, disse.

A ré no processo é a Alstom, acusada de pagar propina por um contrato de fornecimento de duas subestações de energia, em 1998, para uma empresa do governo de São Paulo, na gestão do tucano Mário Covas.

De acordo com os procuradores, os 11 indiciados atuaram para aprovar um aditivo de R$ 181 milhões num contrato com a Eletropaulo, que na época era controlada pelo estado, para fornecer energia para o Metrô. A suspeita é que a Alstom tenha pago 15% do valor do contrato em propina entre 1998 e 2002, durante governos do PSDB.

Entre os indiciados estão o auxiliar de Mário Covas à época, Robson Marinho, um dos fundadores do PSDB. Indicado pelos tucanos como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Marinho foi afastado do cargo em 2014, acusado de ter recebido US$ 2,7 milhões da Alstom em contas secretas na Suíça entre 1998 e 2005. Provas contra ele citam ainda a Secretaria de Energia, que era dirigida por Andrea Matarazzo.

O processo

Depois de oito anos de investigação, a Justiça deu início no dia 20 de abril à primeira audiência do caso do trensalão. Na ocasião foi ouvido Bruno Fagalli, filho de Jorge.

Segundo o Ministério Público, Bruno recebeu depósitos que podem ser parte da propina paga pela Alstom. No depoimento, ele disse que os R$ 582 mil eram de uma herança e que não se lembrava de alguns fatos, por serem muito antigos.

A Alstom fechou acordo para pagar uma indenização de cerca de R$ 60 milhões para se livrar de um processo. O valor estabelecido foi calculado a partir do suborno pago pela Alstom, que correspondeu a 17% do valor do contrato, segundo documento interno da própria multinacional. Além disso, foi inclusa também multa de 10%, para cobrir o que a lei chama de danos morais coletivos.