Temer exclui do governo agenda de políticas para mulheres

O retrocesso nas políticas de gênero no governo ilegítimo de Michel Temer se tornou realidade. O anúncio do ministério nesta quinta-feira (12) excluiu as mulheres, que não ficam de fora de ministérios desde o governo militar de Ernesto Geisel (1974/1979). Segundo militantes do movimento de mulheres, parlamentares e pesquisadoras, a desigualdade volta a ser tratada com naturalidade e a ausência feminina nos espaços de poder será política de governo.  

Por Railídia Carvalho

Mulheres protestam contra Temer em frente ao Senado - Marcello Casal Jr

A pesquisadora e autora de publicações sobre desigualdade de gênero, Flávia Biroli, afirmou que o descaso do presidente golpista não pensou nem em “manter as aparências”. Para ela, a opção é um recado que diz que “não estamos dispostos a qualquer tipo de aceno às mulheres como sujeitos políticos, como sujeitos de direitos”.

A baixa representatividade das mulheres na política brasileira levou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a realizar uma campanha que aumente a participação das mulheres nos parlamentos. 
Mesmo representando mais da metade da população, elas representam 16% da composição do Senado, 10% da Câmara dos Deputados e 11% nas Assembleias Legislativas, de acordo com informações publicados nos respectivos sites.
“No governo Temer, as mulheres voltarão ao lugar que o patriarcado nos reserva: nem presidência, nem ministérios. Retrocesso lamentável”, escreveu no twitter a deputada federal Angela Albino (PCdoB-SC). O PCdoB é proporcionalmente considerado o partido que tem o maior número de deputadas no Congresso Nacional.
Políticas de gênero perdem força
A assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria, Masra de Abreu, disse que não se surpreendeu com a ausência de mulheres no ministério. “Hoje nem tem ministério. Esse processo da conferência está anulado junto à sociedade civil, tampouco entrará na agenda ou haverá alguma política executada”, enfatizou.
Ela se referiu à 4ª Conferência Nacional de Mulheres, que se encerra nesta quinta-feira (12) e encaminha ao governo as resoluções que servirão de parâmetro para as políticas para mulheres dos próximos anos. “Não vai ter ninguém pra brigar por ele no governo”, completou Masra. Ela informou que a entidade deverá se reunir nesta semana para avaliar os impactos das medidas iniciais do governo.
Disposição extra para a luta
“Temos certeza que com este governo patriarcal, conservador e fundamentalista teremos que ter uma disposição de luta ainda maior naqueles espaços que ainda podemos conquistar e tornar realidade o que conquistamos”, avaliou Lúcia Rincón, presidenta da União Brasileira de Mulheres e integrante do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres.
 
O descompromisso com as políticas para mulheres era previsível no governo ilegítimo de Temer, disse Lúcia. “Não houve nenhuma surpresa porque era exatamente o que se esperava dessa articulação de traidores, formada por ricos, brancos, héteros e que coloca em prática toda uma tradição de negar a diversidade do povo, que um projeto popular vinha buscando atender e resgatar para a cidadania e a emancipação”.
Ministério do passado
“O que se pode esperar de um ministério que tem como ministro o ex-secretário de segurança pública do Alckmin e que também foi advogado do PCC”, questionou Masra. A secretaria das mulheres deverá ser incorporada ao Ministério da Justiça e Cidadania, recuperando o nome utilizado no período do governo de Fernando Henrique Cardoso. O titular é o tucano Alexandre Moraes.
 
Ele autorizou o ataque da Polícia Militar de São Paulo a manifestantes do passe livre em janeiro desde ano na avenida paulista. Considerado pelos manifestantes “um banho de sangue”, a ação da PM resultou em pelo menos 28 pessoas com ferimentos graves. Em coletiva no dia seguinte, Alexandre Moraes disse que a ação “só teve elogio”.