New York Times: Dilma paga preço alto; "não há evidência de abuso"

Em editorial publicado na versão impressa desta sexta-feira (13), o New York Times (NYT) aponta que a presidente Dilma Rousseff paga um alto preço por erros de administração, o que chamam de "desproporcional", enquanto muitos de seus mais vigorosos "detratores" são acusados de crimes bem mais graves. 

Editorial NYT

Para o jornal norte-americano, Dilma Rousseff pode até ter problemas no trato político e ter uma liderança que não impressiona, mas não há "evidência de que ela tenha abusado de seu poder para obter vantagem pessoal", enquanto muitos dos políticos que orquestram sua queda têm sido implicados em um enorme volume de escândalos de propina.

O presidente interino Michel Temer, por exemplo, salienta o editorial, pode ficar inelegível por oito anos porque autoridades eleitorais recentemente apontaram violação aos limites de financiamento de campanha.

"Horas depois dos senadores votarem esmagadoramente para colocá-la em julgamento por suposta manobra financeira, a presidente do Brasil Dilma Rousseff denunciou o esforço para afastá-la como um golpe. 'Eu posso ter cometido vários erros, mas eu nunca cometi crimes', disse a Sra. Rousseff. Isso é discutível, mas a Sra. Rousseff está certa em questionar os motivos e a autoridade moral dos políticos que procuram derrubá-la", inicia o editorial.

O NYT lembra que na semana passada o Supremo brasileiro determinou que Eduardo Cunha, "o veterano parlamentar que liderou o esforço para derrubar a Sra. Rousseff', deveria ser afastado no cargo por prática de corrupção.

A presidente Dilma é acusada de usar recursos de bancos estatais para encobrir deficits orçamentários, "uma tática que outros líderes brasileiros empregaram no passado sem enfrentarem tamanho escrutínio". "Muitos suspeitam, contudo, que os esforços para tirar a Sra. Rousseff têm mais a ver com a decisão dela de permitir que promotores avançassem com as investigações na Petrobras, a companhia estatal de petróleo."

O Brasil enfrenta ainda sua pior recessão desde 1930, escreve o editorial do NYT, e agora a crise política mina a confiança da saúde de sua jovem democracia. Compondo este quadro problemático, o governo ainda lida com o surto do vírus zika, pouco antes do início da Olimpíada no Rio de Janeiro.

"As recentes investigações sobre corrupção, que têm exposto uma podre elite que governa, têm indignado os brasileiros. Se o mandato da Sra. é encurtado, os brasileiros deveriam ter a permissão para eleger um novo líder prontamente. Uma nova eleição poderia ser feita em breve se uma corte eleitoral, que têm investigado alegações de que o dinheiro do escândalo da Petrobras teria ido para a campanha da Sra. Rousseff em 2014, invalidar sua última vitória. Alternativamente, o Congresso poderia aprovar uma lei para convocar eleições antecipadas", sugere o New York Times.

Enquanto Dilma Rousseff não gerenciou efetivamente o país, salienta o NYT, os senadores que aprovaram sua saída precisam lembrar que ela foi eleita duas vezes, e que o Partido dos Trabalhadores ainda têm um apoio considerável, principalmente entre os milhões que goram tirados da pobreza nas últimas décadas.

"A confiança na Sra. Rousseff e no seu partido podem ter afundado nos últimos meses. Mas a Sra. Rousseff está para pagar um desproporcional alto preço por erros de administração, enquanto muitos de seus mais vigorosos detratores são acusados de crimes bem mais graves. Eles precisam perceber que muito do fogo que têm sido direcionado a ela vai em breve ser redirecionado a eles", conclui o editorial.