Serra ocupa Itamaraty dizendo que vai priorizar EUA e Argentina

Nesta quarta-feira (18), o tucano José Serra, senador pelo PSDB de São Paulo, passou a ocupar oficialmente a pasta das Relações Exteriores. Em seu discurso, ele estabeleceu dez novas diretrizes que pretende aplicar para a política externa brasileira, dizendo que a partir de agora ela irá "atender à sociedade e não a um partido".

Por Dayane Santos

José Serra - Agência Brasil

"A diplomacia voltará a refletir de modo transparente e intransigente os valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia", disse Serra. "A nossa política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não de um governo e jamais de um partido", disse o tucano golpista. Entre as novas diretrizes, Serra citou a prioridade das relações com a Argentina, o México e os EUA.

Para José Reinaldo Carvalho, pós-graduado em Política e Relações Internacionais e secretário nacional de Política e Relações Internacionais do PCdoB, o discurso de Serra quer voltar ao tempo em que o Brasil vivia de “braços abertos para a Europa e Estados Unidos e de costas para América Latina e África”.

“O que Serra quer é destruir o prestígio do Brasil perante os povos pelo preconceito que ele tem. Essa é a visão cosmopolita, entreguista e submissa do PSDB”, enfatizou.

José Reinaldo salientou que o país, ao longo dos últimos 13 anos de governos Lula e Dilma, abriu as portas da diplomacia para a África, Oriente Médio e os países do Caribe.

“Com essa nova estratégia, quando ele diz que vai priorizar a Argentina é porque ele quer destruir o Mercosul, porque as relações do Brasil com o continente não podem ser apenas com a Argentina”, destacou.

Enfraquecer o Mercosul e o Brics

“Por que ele ignora a unidade latino-americana?", indaga José Reinaldo. "Exatamente porque essa unidade foi a principal obra dos governos Lula e Dilma. O Brasil se empenhou bastante durante esses 13 anos para erguer a unidade latino-americana, a integração soberana da América Latina e do Caribe. E contribuiu muitíssimo para criar instituições que correspondessem a isso, no caso a Unasul e a Celac. Em relação ao Mercosul, o Brasil trabalhou para fortalecê-lo”, explicou.

Segundo Carvalho, essa foi uma decisão política adotada pelo Brasil por entender que a integração dos povos latino-americanos era uma forma de reafirmação perante o poder hegemônico dos Estados Unidos e Europa.

“Ao fortalecer a América Latina e o Caribe, nós ajudamos a criar um polo geopolítico e econômico que passou a desempenhar um papel importante na luta pela desconcentração do poder mundial, pela democratização das relações internacionais e pela paz mundial. Serra vai destruir tudo isso com o discurso que ele está fazendo e com a perspectiva que ele está abrindo”, declarou.

Ele destacou ainda que, sob a égide de Lula e Dilma, o Brasil se projetou no mundo ampliando a representação do país diante dessa nova configuração de desconcentração do poder mundial e nova ordem econômica.

“Fizeram isso através da diversificação das nossas relações diplomáticas, políticas e comercias. E o ponto culminante disso foi a formação e fortalecimento do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em que o país passou a ter um papel estratégico”, lembrou.

E acrescenta: “Serra também está investindo contra isso porque ao enfraquecer a projeção do Brasil, ele vai enfraquecer também o Brics”.

Virar as costas para a África

José Reinaldo classificou como “desastrosa” a declaração sobre o esvaziamento das embaixadas do Brasil na África e no Caribe.

“Isso mostra o caráter colonizado, entreguista e submisso do Serra, porque o Brasil sempre viveu de braços abertos para a Europa e Estados Unidos e de costas para América Latina e África. E foi a diplomacia de Lula que abriu as portas do Brasil para África, Oriente Médio e os países do Caribe”, sublinhou.

Ele resgatou ainda o fato de que o ex-presidente Lula foi o primeiro estadista brasileiro a visitar o Oriente Médio desde D. Pedro II. “E sobre a África, o Brasil desenvolveu uma série de mecanismos de cooperação bilateral e multilateral, exportou a sua visão de justiça social e políticas de assistência aos pobres saudadas pela ONU”, concluiu.