Publicado 20/05/2016 10:34 | Editado 04/03/2020 16:24

Li, sábado passado, o artigo da jornalista Nathália Bernardo, que se propôs a responder à pergunta: “o que querem os ‘golpistas’?” Achei a proposta muito interessante, principalmente porque se remete à célebre questão posta por Freud às mulheres. (Que ele, por sinal, morreu sem saber.) Depois, porque considero o debate saudável.
Então, é o seguinte: o pêndulo que corre de um extremo a outro na situação política de agora aporta em vários lugares que o maniqueísmo fácil desvirtua. Numa dessas paragens estão as milhares de pessoas que bateram panelas e que foram às ruas contra a corrupção. Essas pessoas não são “golpistas”. Da mesma forma que nem todas as pessoas que são contra o impeachment da presidente Dilma são a favor da corrupção ou dos rumos que o governo do PT havia tomado.
É inegável, porém, que alguns membros da elite econômica nacional aliados a políticos cujo contorno pudemos ver na votação do impeachment encontraram uma forma de impor no País uma política liberal que pretende transformar o Brasil num imenso cassino e enfraquecer o Estado de tal forma que o laissez faire imaginado pelos pais do liberalismo corre severo risco de parecer um jardim da infância do capitalismo.
No vai e vem das falas – e atos falhos – dos ministros do governo Temer, ele, sim, “golpista” legítimo, essa possibilidade está cada vez mais à vista. Basta ler com cuidado a afirmação do ministro da Saúde, dizendo que o Estado não pode bancar serviços de saúde para todos. Vejam como este governo trata a cultura ignorando acordos assinados pelo Estado brasileiro, em nível internacional, nos quais há o compromisso em ampliar as políticas públicas da cultura a fim de fortalecê-la como pilar de desenvolvimento social e econômico.
Basta ler nas entrelinhas do que está escapando dos propósitos deste governo. O que temos é liberalismo distorcido, que vai punir com o abandono os que precisam de políticas públicas de inclusão. Os verdadeiros golpistas querem, de fato, se apossar de toda a riqueza do País sem nenhuma preocupação social tampouco com distribuição de renda. Quem quiser que tente a sorte com jogos de azar. Muito embora neste jogo, a sorte independe do lance, porque já sabe de qual lado deverá estar.
*Regina Ribeiro é jornalista do O Povo
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