Temer diz que não fala em “herança”, só quando for para criticar Dilma

Em discurso durante cerimônia de posse dos presidentes da Petrobras, do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa e do Ipea, nesta quarta-feira (1º), Michel Temer, que ocupa interinamente a Presidência da República, disse que em menos de 20 dias está cumprindo a agenda neoliberal. Aproveitou para dizer que não iria falar em “herança de espécie alguma”, só quando for para criticar o governo da presidenta Dilma Rousseff.

Michel Temer - Lula Marques/ Agência PT

“Não falarei em herança de espécie nenhuma, apenas revelo a verdade dos fatos para que eventuais oportunistas não venham debitar os erros dessa herança ao nosso governo”, disse ele, afirmando que ao ler os jornais tem a impressão de que seu governo tem “três ou quatro anos”, mas sua equipe tem menos de 20 dias, já conseguiu apresentar uma “agenda positiva” para o Brasil.

“Em menos de 20 dias, já apresentamos uma agenda positiva. Reduzimos a administração pública, de modo a torná-la mais ágil e eficiente. Obtivemos no Congresso, depois de longa discussão, a aprovação da nova meta fiscal e estamos encaminhando ao Congresso projeto que limita despesas e estabelece teto para os gastos públicos”, afirmou.

O que Temer chama de agenda positiva é a redução do papel do Estado com o corte de gastos públicos, incluindo Saúde e Educação, fim do Fundo Soberano, criado para ser usado em períodos de crise, e quebra do monopólio do pré-sal.

Ainda no discurso, Temer defendeu a redução do que classifica como um Estado “inchado e ineficiente”. Ele defende que o Estado de inclusão social dê lugar ao que ofereça condições para o “progresso e empreendedorismo”.

“Não queremos Estado mínimo nem máximo, mas Estado suficiente. E, porque suficiente, eficiente”, disse. Mas a “eficiência” de Temer é cortar os investimentos em Saúde e Educação, levando a apenas recompor a inflação do período e impedindo qualquer ampliação real do gasto público.

Gravações

Encurralado pelas revelações das conversas que confirmam a orquestração do golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff para levá-lo ao poder e, assim, “estancar a sangria” da Lava Jato – como disse o seu fiel escudeiro Romero Jucá (PMDB-RR), Temer tentou fingir que o assunto não é com ele.

“Quero revelar pela enésima vez que ninguém vai interferir na chamada Lava Jato. A toda hora leio uma ou outra notícia de que o objetivo é interferir. Sem nenhum deboche, digo pela enésima vez: não há a menor possibilidade de qualquer interferência do Executivo nesta matéria”, declarou.

Mas nas gravações feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro por indicação do PMDB, é clara e cristalina a atuação de cúpula de seu partido, coordenada por Temer e Eduardo Cunha (PMDB).