Comissão aprova Goldfajn no BC; sindicato vê conflito de interesses

Nesta terça (07), a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou a indicação de Ilan Goldfajn como presidente do Banco Central (BC). Ainda nesta terça, o Plenário da Casa deverá avaliar o assunto. O Sindicato Nacional dos Funcionários do BC (Sinal), contudo, aponta conflito de interesse na nomeação. A preocupação é motivada pela ligação do economista com o Itaú Unibanco. No momento de sua indicação para o cargo, ele era sócio proprietário do banco, que é fiscalizado pelo BC.

Ilan Goldfajn l Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na Comissão, o placar foi de 19 votos pela aprovação e oito votos contra. Se tiver seu nome referendado pelo Plenário, Ilan terá sua nomeação publicada e será preciso assinar o termo de posse para assumir a presidência do Banco Central. Nesta terça e quarta-feiras, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne, ainda presidido por Alexandre Tombini, atual presidente do BC.

Durante a reunião da comissão, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) questionou Goldfajn sobre uma situação de possível conflito de interesse no fato de o Banco Central ter a responsabilidade de fiscalizar o ex-empregador de Ilan Goldfajn, o Itaú Unibanco, do qual era até recentemente economista-chefe e acionista. Ele respondeu que não tem mais ligação com seu antigo empregador e que vendeu sua participação acionária, que considerou parte de sua remuneração.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) anunciou a decisão de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para anular a sabatina. O parlamentar criticou a decisão, aprovada pelo plenário da comissão, de abrir o painel de votações antes do término dos questionamentos dos senadores. Lindbergh comparou a "pressa" na votação desta terça-feira com a sabatina dos indicados para o Federal Reserve (FED), o banco central norte-americano, que demora vários dias.

Sindicato

Em nota divulgada antes da aprovação na comissão, o Sinal ressalta que a indicação de Goldfjan para o posto difere da nomeação de outros economistas vindo do setor privado que presidiram a autarquia – como Armínio Fraga (1999-2003) e Henrique Meirelles (2003-2011).

O sindicato destaca que no momento em que estes foram indicados para presidir o BC não estavam ligados a uma instituição financeira brasileira, diretamente sujeita à fiscalização do órgão. Fraga e Meirelles trabalhavam no exterior antes de assumirem o mesmo cargo.

A assessoria do Itaú confirmou que Goldfajn já se demitiu do banco e vendeu suas ações, as quais tinha recebido enquanto era funcionário, como forma de remuneração adicional.
“Temos um certo receio. Já temos um sistema financeiro altamente benéfico aos bancos. Estão sempre entre as empresas com maiores lucros no país”, disse o presidente do Sinal, Daro Piffer em nota.

Ouvido pela BBC, o professor do Instituto de Economia da UFRJ Claudio Pinkusfeld demonstrou preocupação semelhante à do sindicato, embora tenha sublinhado que considerar Goldfajn uma pessoa correta. Na sua visão, a taxa básica de juros do país, a Selic, é excessivamente alta, o que permite aos bancos ter rendimento elevado com investimentos em títulos públicos, aplicação de baixo risco e custo.

"O problema é colocar um regulador (do sistema financeiro) com óbvias ligações (com um banco privado). Mas não quer dizer que ele (Goldfajn) seja desonesto ou vá fazer algo a favor de um banco ou de outro ", ressaltou.