Dez intervenções da CIA na América Latina

A CIA (Central de Inteligência Americana) tem uma longa história de intervenções violentas em muitos países ao redor do mundo. Para conquistar seus objetivos recorrem a sequestros de líderes sociais ou políticos, econômicas ou militares. Se necessário, há golpes, intervenções militares e assassinatos.

Invasão no Palácio La Moneda - Reprodução

Outro método é a infiltração em setores sociais para causar desestabilização, incitar a violência e causar crises sociais e econômicas. Mecanismo que está sendo usado atualmente na Venezuela para aprofundar a crise social e desestabilizar o presidente Nicolás Maduro. O Wikileaks divulgou uma série de documentos que comprovam o sistema operacional da CIA em diversos países.

A Telesur selecionou dez exemplos na América Latina:

1 – Guatemala em 1954

Em 1944, a violenta e sangrenta ditadura de Jorge Ubico, apoiada pelos Estados Unidos, foi derrubada por um levante popular farto das brutais injustiças. Na verdade, o país havia sido governado até este momento pela The United Fruit Company, uma companhia marionete de Washington que escravizou a população. Retiraram as terras dos camponeses e os obrigaram a trabalhar por migalhas. Quem não obedecia era brutalmente castigado por uma força policial sob as ordens da empresa agrícola norte-americana.

A tranquilidade voltou à Guatemala, mas durou 10 anos somente antes o presidente Dwight Eisenhower implementar um plano para derrubar o governo. Em 1954, a CIA lançou PBSucess. A capital guatemalteca foi bombardeada por aviões estadunidenses. O jovem Ernesto Che Guevara foi rapidamente impactado pela brutalidade. Centenas de lideranças camponesas foram executadas pelas marionetes de Washington. Então iniciou a Guerra Civil Guatemaleca e muitas comunidades camponesas e indígenas maias foram massacradas. No final da intervenção dirigida pela CIA havia morrido mais de 200 mil pessoas. As empresas estadunidenses voltaram a ter lucros no país e Washington estava feliz.

2 – Haiti em 1959

O Haiti é tão estratégico para os Estados Unidos como a República Dominicana e Cuba. Desta forma Washington não titubeia cada vez que seu poder diminui na região caribenha. Por nenhum motivo os Estados unidos permitira que os governos da região se inclinassem à esquerda, e para isso não acontecer, a CIA entra em ação. Claro, Cuba é um exemplo de resistência desde 1959. Neste ano no Haiti houve um levante popular contra o brutal ditador Fraçois Duvalier. A CIA barrou a reação popular. Duvalier criou um exército com apoio de Washington para atuar com violenta repressão contra as comunidades provincianas. Duvalier e seu filho, Jean Claude Duvalier, que herdou o posto do pai na ditadura, ordenaram massacres sangrentos e cruéis. Mais de 100 mil pessoas foram assassinadas. Quando em 1986 começou uma rebelião incontrolável, aí sim um avião da Força Aérea dos Estados Unidos resgatou Jean Claude Duvalier e o levou a viver tranquilamente na França.

3 – Brasil em 1964

O ano de 1964 foi de mudanças incríveis no Brasil. O presidente democraticamente eleito, João Goulart, implementou seu plano de Reformas de Base. Ainda que os Estados Unidos sempre tenha mantido controle sobre os povos distantes para manter a ignorância generalizada, havia uma mudança que realmente incomodou o país do norte: uma reforma que reduziria os lucros das corporações multinacionais norte-americanas e de seus aliados. Claro, também incomodava o plano de reforma agrária.

Então, a CIA entrou em ação e derrubou o governo de Jango em 1964 e instalou uma brutal ditadura militar que durou 19 anos. Durante este período, milhares foram torturados, presos e assassinados. Também trataram de eliminar toda e qualquer pessoa que tivesse pensamentos de esquerda, em especial os comunistas.

4 – Uruguai em 1969

Durante os anos 60, movimentos revolucionários cresciam na América Latina. O Uruguai estava afundado em uma crise. Surgiram os maiores inimigos dos Estados Unidos: os Tupamaros, uma guerrilha revolucionária urbana. José Mujica formava parte desta organização e sua esposa Lucia Topolanski também. Washington se emprenhou em detê-los porque a influência do grupo estava se expandindo. Nelson Rockefeller foi ao Uruguai para observar como efetivamente se fortalecia um sentimento “anti-ianque” e voltou a Washington para alertar que algo precisava ser feito com urgência.


José Mujica durante uma reunião dos Tupamaros | Foto: Marcelo Isarrualde


Rapidamente a CIA respondeu ao chamado e enviou seu agente Dan Mitrione ao Uruguai. Ele foi responsável por treinar as forças policiais locais para a tortura e outras coisas macabras indescritíveis. Então, com a ajuda da CIA se instalou uma ditadura militar no país sob a ordem de Juan Maria Bordaberry, que governou o Uruguai com instruções direitas de Washington durante 12 anos. Centenas de pessoas foram assassinadas e milhares torturadas. A repressão era tão brutal que os uruguaios tinham medo até mesmo de dançar.

5 – Bolívia em 1971

As riquezas minerais da América Latina são a grande cobiça dos Estados Unidos e o país faz o possível para poder controla-las. Por décadas as corporações estadunidenses mantiveram sob seu domínio diversas regiões do Chile, Bolívia e Peru. Neste último, escravidão absoluta durante os anos 60. Quando os escravizados se atreviam a rebelar-se eram aniquilados imediatamente aos montes. Che Guevara viajou à Bolívia e se encarregou de incitar a revolução de 1967. Neste período as corporações norte-americanas mantinham até mesmo crianças sob o regime de escravidão. Dois anos depois Che foi assassinado pela CIA e os Estados Unidos instaurou uma junta militar no país.


Manifestação contra a ditadura na Bolívia 


Mas de novo as coisas não deram tão certo quanto Washington planejou. O general Juan José Torres tomou o poder tratou de implementar reformas para os trabalhadores e os pobres. Os bolivianos estavam iludidos, mas a CIA não e para levar a cabo suas instruções, recrutou o general Hugo Banzer. Ele liderou um golpe contra Torres e em 1971 iniciou sua violenta ditadura. Mandou torturar um incontável número de opositores e executar centenas de líderes políticos. Encarcerou mais de 8 mil pessoas. Todas as medidas foram tomadas sob as instruções de Washington.

6 – Chile em 1973

Outro país brutalmente explorado pelas corporações estadunidenses. Outro país condenado à miséria por Washington. Outro país mais que a CIA fez de tudo para desprestigiar nos meios de comunicação nacionais e internacionais o governo do presidente democraticamente eleito, Salvador Allende. Extorsão, tortura, encarceramento e assassinatos como medida de barrar os anti-ianques. Provocar a escassez para que o povo confronta-se o governo no aprovado pelos Estados Unidos, especialmente porque nacionalizou o que esse país mais desejava: suas riquezas minerais. Mas Washington também se incomodou muitíssimo porque Allende promoveu políticas públicas de moradia e educação para milhares de pessoas. Então os EUA fizeram o mesmo que acontece hoje em todo o mundo: golpe de Estado. Em 11 de setembro de 1973 o general Augusto Pinochet liderou o golpe de Estado com todo o apoio da CIA, incluindo armas e equipe militar.


Repressão na ditadura chilena 


Aviões de guerra bombardearam o palácio presidencial. Assassinaram Allende, que antes de morrer falou ao povo: “não vou renunciar. Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com a vida a lealdade do povo”. Pinochet governou por 17 anos. Mandou prender 80 mil pessoas, torturou mais de 30 mil e assassinou 3.200.

7 – Argentina em 1976

Os argentinos viveram a ditadura mais sanguinária da América do Sul. É traumatizante o simples fato de ler sobre as atrocidades cometidas no país. campos de concentração, centros de tortura, massacres, estupros, agressões contra mulheres grávidas e execução de crianças. No total, 30 mil pessoas foram assassinadas. Por trás de todo este plano estava a CIA. Em 1973, a Argentina resistia a uma crise política tão grave que o presidente Juan Perón desmoronou e morreu de ataque no coração em 1974. Sua esposa, Eva Perón, tomou o poder só para enfrentar os conflitos até mesmo dentro de seu partido Peronista.


Manifestação das Mães da Praça de Maio em busca dos filhos desaparecidos na ditadura 


A CIA esperou sigilosamente até 1976, quando a situação era tal que foi fácil entrar e fazer o jogo sujo. Claro, recrutaram a um general de nome Jorge Rafael Videla e, novamente, um golpe de Estado em outro país latino-americano e outra ditadura marionete dos Estados Unidos. Nesta ocasião aparece o supervisor da desgraça, o infame secretário de Estado, Henry Kissinger.

8 – El Salvador em 1980

Este país centro-americano não sofreu menos sob a intervenção estadunidense e a supervisão já sabemos de quem: a CIA. Washington havia apoiado uma ditadura brutal que durou exatamente 50 anos entre 1931 e 1981. Camponeses e indígenas foram despejados sem piedade e a sangue frio. Mais de 40 mil foram massacrados. A situação foi tão grave que aconteceu algo inédito, até a Igreja Católica tentou intervir a favor dos pobres. Nesta época El Salvador era controlado por 13 famílias mafiosas donas de 50% do território nacional.

As 13 famílias estavam estreitamente ligadas com Washington. E a CIA treinava o exército e o equipou com todo o necessário. Quando o serviço de inteligência norte-americano soube que os jesuítas ajudavam as massas, mandou matá-los. E pediu para o papa João Paulo falar com o bispo Oscar Arnulfo Romero para pedir que desistisse da resistência. O cardeal se negou e foi assassinado durante uma missa em 1980. El Salvador foi então jogado em uma guerra civil que durou 12 anos e foi supervisionada pela CIA. Quando terminou o flagelo, mais de 75 mil pessoas haviam sido assassinadas, mas os EUA estavam felizes.

9 – Panamá em 1989

Um agente da CIA se torna o ditador. Estamos falando do presidente Manuel “Cara de Piña” Noriega. Obvio que por sua localização geográfica, o Panamá é de suma importância para os Estados Unidos. Quando o presidente Omar Torrijos tentou expulsar os gringos do Canal do Panamá, a CIA colocou uma bomba em seu avião e ponto final do conflito. Em 1983, Noriega tomou o poder. Ele era narcotraficante, além de agente da CIA há mais de 30 anos. Para Washington, não havia problemas porque ele seria servil. Porém, pelo dinheiro e pelo poder, Noriega mudou passou por cima de tudo. Obcecado com o poder, ele não percebeu que os Estados Unidos pretendiam outro nome para a presidência: Guillermo Endera. Mas em seu lugar, Noriega designou Francisco Rodríguez o impôs através de eleições fraudulentas. Também perseguiu as bases militares dos Estados Unidos em seu país.

Manuel Noriega 

Claro que os ianques não deixaram barato e invadiram o Panamá em dezembro de 1989. Prenderam Noriega em uma prisão norte-americana e mataram 3.500 civis inocentes e 20 mil foram despejados. 

10 – Peru em 1990

Por último chegamos ao Peru. Aqui acaba apenas lista, não as ações que a CIA continua levando a cabo em toda a América Latina. Estes 10 casos servem apenas para entender como os Estados Unidos sempre foram iguais e nunca vão mudar. Sempre tomará as medidas necessárias para exercer seu brutal, violento, descarado, desmedido e genocida domínio nesta e em todas as regiões que considere pertinente.


Fujimori foi condenado há 25 de prisão em regime fechado por crimes de lesa humanidade 


No Peru se repetiu a história de um agente da CIA dominar o poder. Trata-se de Alberto Fujimori, eleito em 1990. Como se elegeu é uma pergunta que ninguém respondeu até hoje porque não passava de um medíocre, no sentido completo da palavra. Não tinha nem preparação, nem ideias, nem estratégias. E pior, não tinha nem influência politica, nem muito carisma. Porém, teve a inteligência de ser assessorado por um homem muito inteligente, o advogado Vladimiro Montesinos, que também era agente da CIA e foi nomeado chefe do Serviço de Inteligência Nacional. Fujimori montou um grupo paramilitar para assassinar militantes de esquerda e marxistas. Dissolveu o congresso e prendeu todos os membros da Suprema Corte de Justiça. A CIA financiou todas as atrocidades. Agora ele está atrás das grades.