Opinião: Brexit ajuda a evitar a guerra entre Rússia e Otan

A redatora-chefe do jornal The Nation, Katrina van den Heuvel, escreveu no The Washington Post um artigo opinando que o Brexit pode ajudar a evitar um conflito entre Otan e Rússia.

Cartaz em apoio à saída do Reino Unido da União Europeia

“O referendo britânico deve fazer os EUA e a UE rever completamente sua política – em que se refere ao regime de austeridade econômica, ao poder de tecnocratas, à política migratória, econômica e externa”, escreveu ela.

Em sua opinião, essa reavaliação deve tocar a política da Otan em relação à Rússia.

O que está acontecendo entre a Aliança e Moscou é uma aproximação perigosa a uma nova Guerra Fria e, segundo a autora, a isso se está prestando “uma atenção infamemente pequena”.

Na verdade, as relações entre os EUA e a Rússia se deterioraram acentuadamente nos últimos anos, lembra a jornalista. Nos meios de comunicação ocidentais a Rússia é posicionada como "o único agressor", sem dizer uma palavra sobre o papel da UE e da Otan na crise ucraniana e no aumento das tensões.

Katrina lembrou também alguns dos passos concretos nos últimos anos dos EUA e seus aliados da Otan: eles impuseram sanções contra a Rússia, instalaram um sistema de defesa antimísseis na Romênia, aumentaram significativamente o número de forças armadas nas fronteiras com a Rússia e começaram realizando exercícios militares de larga escala como, por exemplo, as manobras recentes Anakonda-2016 em que participaram mais de 30 mil soldados.

Não é uma surpresa que Moscou reaja a isso deslocando suas tropas para perto da fronteira ocidental. Depois disso o risco de um incidente e de escalação se tornou mais provável.

A jornalista escreve que um tão grande número de forças hostis nunca tinha estado nas fronteiras da Otan desde a Segunda Guerra Mundial. É esperado que na cúpula da Otan em Varsóvia, que está planejada para o próximo mês, “uma política mais hostil e perigosa” será oficialmente aprovada.

Mas a crise ucraniana continua se mantendo e a reconciliação na Síria também se verificou ser muito difícil, porque os EUA não cooperam com a Rússia na luta contra os grupos terroristas, mas fornecem armas para os rebeldes, tentando derrubar o governo de Bashar Assad.

“O Brexit, que faz a UE e a Grã-Bretanha se concentrarem nos problemas internos, pode mudar completamente a estimativa deste rumo”, julga Katrina vanden Heuvel.

Ela chamou a atenção ao fato que na Europa cresce a resistência à retórica antirrussa. Itália e França, por exemplo, estão insatisfeitas com as consequências das sanções.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, expressou sua insatisfação com os exercícios da Otan perto das fronteiras da Rússia, dizendo que a aliança militar não deve agravar a situação "com o brandir das armas e gritos de guerra".

Aqueles que comentaram as consequências externas da política do Brexit, falaram sobre um possível enfraquecimento da Otan e um papel crescente da Rússia na Europa dividida.

Mas os EUA e a Europa têm razões sérias para cooperar com a Rússia, julga a jornalista: só os esforços conjuntos ajudarão a combater o Estado Islâmico e contribuir para uma reconciliação na Síria e para o reinício das negociações sobre desarmamento nuclear.