Governo anuncia rombo de R$ 139 bi em 2017 e entrega do patrimônio

Pressionado pelo mercado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou na noite desta quinta (7) um rombo de R$ 139 bilhões como meta fiscal para 2017. Segundo ele, para chegar ao valor, será preciso não só cortar gastos, mas obter receitas adicionais via concessões, venda de ativos, outorgas de campos de petróleo e possível aumento de tributo. A meta contradiz o discurso de austeridade de Michel Temer e é mais que o dobro do deficit estimado pela presidenta Dilma Rousseff – R$65 bilhões.

Henrique Meirelles - Agência Brasil/Elza Fiuza

Além do rombo de R$ 139 bilhões para a União, a equipe econômica estabeleceu meta de deficit de R$ 3 bilhões para as estatais e de R$ 1,1 bilhão para estados e municípios. Se forem levados em consideração os três entes, a meta de resultado negativo sobe para R$ 143,1 bilhões.

“Temos de enfrentar aumentos constantes das despesas federais há duas décadas. Tivemos de considerar esforço principalmente focado nas despesas e na geração de receitas adicionais”, disse Meirelles, que sinaliza para a entrega do patrimônio nacional às empresas privadas e estrangeiras e abre brecha para uma sensível ampliação dos impostos. A expectativa do governo é arrecadar no ano que vem R$ 55 bilhões a mais do que seria esperado.

Quando a estimativa de deficit partiu do governo Dilma, foi classificada pelas forças hoje governistas como “irresponsabilidade fiscal” – aliás, argumento utilizado no pedido de impeachment da presidenta.

O ministro usou mais uma vez a estratégia do bode na sala, ao afirmar que o deficit poderia chegar a R$ 270 bilhões, mas foi reduzido com a proposta de limitação do gasto público à inflação do ano anterior. “Apenas com a aplicação desse teto, com as despesas públicas sem crescimento real, o deficit ainda seria negativo em R$ 194 bilhões”, disse, para justificar a necessidade de “receitas adicionais”.

O deficit primário corresponde à diferença entre arrecadação e gastos do governo, sem levar em conta as despesas com os juros da dívida interna pública. O novo valor será incluído, por meio de emenda, ao projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017, enviado ao Congresso Nacional em abril.

O projeto original da LDO previa, para 2017, meta fiscal zero para o Governo Central e superávit de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país) para estados e municípios. No entanto, mecanismos de abatimento da meta permitiriam que a União registrasse deficit de até R$ 65 bilhões.

Tal valor foi considerado irrealista pela nova equipe econômica, que, para 2016, já havia optado por anunciar o maior deficit da história, R$ 170,5 bilhões, de forma a ter folga para negociar com sua base política fisiológica, preservando a maioria parlamentar e retribuindo o apoio ao impeachment.

No anúncio desta quinta, Meirelles disse que todos os cálculos necessários foram feitos para que as despesas evoluíssem levando em conta o limite máximo baseado na inflação do ano anterior. Para ele, apesar de tudo, o resultado é uma “vitória da austeridade”.

Contrariando a agenda da Fiesp, Meirelles afirmou: "Não descartamos aumentos pontuais de impostos". Segundo ele, isso deve ser definido até o final de agosto. De acordo com o governo, a previsão de crescimento do PIB para 2017 é de 1,2%.

Medidas impopulares

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, reiterou que o governo vai adotar medidas impopulares para garantir o cumprimento da meta fiscal de 2017. Indagado sobre essa possibilidade após a votação final do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, Padilha confirmou: "Terão que vir medidas que não são as mais agradáveis e tantas outras virão", afirmou ele.

Nesta quinta, o governo já anunciou a alteração em benefícios como a aposentadoria por invalidez e auxílio-doença e o acesso de trabalhadores a fundos de previdência complementar.

Serão revisados os chamados benefícios por incapacidade de longa duração. Para isso, mais de 100 mil perícias por mês serão feitas com o objetivo de checar se os trabalhadores afastados nessa condição continuam incapazes de realizar seus trabalhos.