Temer apadrinhou dois corruptos presos na Lava Jato

A revelação do ex-presidente da BR Distribuidora, Sérgio Machado, de que repassou R$ 1,5 milhão, a seu pedido, para ajudar na campanha de Gabriel Chalita a prefeito de São Paulo, há quatro anos, não é o único envolvimento de Michel Temer com a Operação Lava Jato. Sua participação é mais ampla e mais antiga, com início no governo Fernando Henrique.

Por Alex Solnik*, no Brasil 247

Sergio Machado

Em novos trechos de sua delação premiada, Delcídio do Amaral relatou que Temer também teve grande influência na substituição de Nestor Cerveró por Jorge Zelada na Diretoria Internacional da Petrobrás e era padrinho de João Augusto Henriques, principal operador de um dos maiores escândalos envolvendo a BR Distribuidora, que foi a aquisição ilícita de etanol no período de 1997 a 2001. Ambos presos na Operação Lava Jato.

Delcídio contou ao juiz Sérgio Moro ter participado da reunião com Lula e Zeca do PT em que foi sacramentada a nomeação de Nestor Cerveró para a Diretoria Internacional da Petrobrás.

Antes da nomeação para a Diretoria, Cerveró era gerente da área de energia junto à presidência da Petrobrás. Ao ser criada a Diretoria de Gás e Energia a gerência que ele ocupava foi deslocada para a nova Diretoria. Foi quando Delcídio conheceu Cerveró.

Com o enfraquecimento político de Delcídio por ter presidido a CPMI dos Correios em 2005, cujas investigações atingiram severamente o PT, Cerveró passou a ser apadrinhado pelo PMDB, como uma espécie de contraprestação pelo apoio político dado pelo PMDB na campanha eleitoral de Lula em 2006.

Delcídio do Amaral tem conhecimento de que Nestor Cerveró, a partir do apadrinhamento pelo PMDB, passou a arrecadar grandes quantias para os representantes do referido partido.

Em 2008, o atual vice-presidente Michel Temer teve grande influência na substituição de Nestor Cerveró por Jorge Zelada. Zelada foi condenado a 12 anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e multa de 123 milhões de reais por participação no recebimento de 31 milhões de dólares pela fraude na aquisição da sonda Titanium Explorer da empresa americana Vantage Drilling que custou 1,81 bilhão de dólares.

Além de ser denunciado por vários delatores, tais como Paulo Roberto Costa e Milton Schahin, autoridades do Principado de Mônaco bloquearam 10 milhões de euros em nome de Zelada.

Schahin afirmou que ele exigiu propina de US$ 5 milhões para ajudar na rolagem de uma dívida de leasing do Grupo Schahin com a estatal na operação do navio sonda Vitória 10.000 em encontro num bar no Centro do Rio, perto da sede da Petrobrás. "Ele disse assim 'eu preciso que você entenda que estou trabalhando pelo seu projeto, sempre trabalhei pelo seu projeto e e nunca recebi nada. Quero dizer o seguinte, eu quero 5 milhões de dólares para seguir em frente com o assunto'.

Ainda de acordo com novos trechos de sua delação, Delcídio do Amaral sabe que um dos maiores escândalos envolvendo a BR Distribuidora foi a aquisição ilícita de etanol no período de 1997 a 2001. O principal operador desse esquema foi João Augusto Henriques (ex-diretor da BR Distribuidora) e atualmente preso por ordem judicial da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba.

A ilicitude ocorreu durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O "padrinho" de João Henriques no esquema do etanol foi Michel Temer.

A relação entre João Henriques e Michel Temer é antiga e explica a sucessão de Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobrás. João Henriques foi o primeiro indicado para essa diretoria para substituir Cerveró, entretanto foi vetado pessoalmente por Dilma Rousseff, substituído por Jorge Zelada, indicação do próprio João Augusto.