Lula: "Não podemos aceitar que joguem a Constituição no lixo"

Em entrevista à rádio CBN de Fortaleza, Ceará, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou o andamento do processo de impeanchent e reafirmou que já está provado juridicamente que Dilma não cometeu nenhum crime. "Ora, se ela não cometeu nenhum crime ela não pode ser julgada a não ser pelo julgamento do voto popular que já a julgou em 26 de outubro de 2014".

Lula em Fortaleza - Instituto Lula

"A presidenta Dilma precisa de seis votos para que o impeachment seja abolido. Nós, que lutamos tanto contra o regime militar, não podemos aceitar que joguem a Constituição no lixo", salientou o ex-presidente. "É muito jovem a nossa democracia. A gente nem apagou os resquícios do golpe militar e vem um golpe parlamentar", lembrou.

Lula voltou a criticar a ação política de Eduardo Cunha no processo de impeachment afirmando que o ex-presidente da Câmara dos Deputados agiu por vingança, após três deputados do PT não votarem por sua absolvição. "Dilma deve ser julgada pelo povo, não pelo Congresso", diz.

Lula disse que o governo de Michel Temer (PMDB) não se comporta como provisório e toma medidas provocam retrocesso na vida dos trabalhadores. Reafirmou que não é candidato a presidente, mas advertiu: “Não sou candidato. Peço a Deus que apareça alguém mais jovem do que eu, mas se mexerem nos direitos do trabalhadores, eu volto”, disse.

Sobre a ação que move junto ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), na qual denuncia o abuso de poder do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Operação Lava Jato, Lula disse que quer “ser tratado com igualdade de condições”.

“Vivemos um estado de exceção, levantam a denúncia na esperança de que as manchetes condenem. É necessário primeiro achincalhar para depois para provar? É possível fazer uma investigação séria sem condenar pelas manchetes? Sou acusado de ter apartamento, sítio e eles têm que provar que tenho. Estou reivindicando direito de defesa, que o MP não vaze seletivamente, por isso entrei com ação da ONU. Porque quero respeito. Quero ser tratado com igualdade de condições", disse.

"Junto com Dilma, fui o presidente que mais criou mecanismos para facilitar investigações. A Lava Jato é importante. Criamos mecanismos para que ricos vão para a cadeia. Rico não precisa de governo, quem precisa é o povo pobre. É para eles que a gente tem que governar. Na história da humanidade, todo mundo que governou olhando para os mais pobres, foi perseguido”

Durante encontro com lideranças dos movimentos sociais da Frente Brasil Popular em Fortaleza, no Ceará, nesta segunda-feira (1º/8), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff foi “um golpe parlamentar em cima de uma mulher eleita com 54 milhões de votos”.

Segundo o ex-presidente, os senadores que votarem pelo golpe "terão de prestar conta para a consciência deles". "Porque daqui alguns anos, são os netos deles que irão perguntar se o avô é golpista. O bisneto vai perguntar se o bisavô foi golpista e eles vão ter que explicar", completou.

Desde segunda, Lula cumpre agenda de visitas no Nordeste para participar de diversos atos políticos nos estados do Ceará, da Bahia e do Rio Grande do Norte. Nesta terça-feira (2), em Natal, o ex-presidente se reúne com sindicalistas e movimentos sociais às 15 horas. Na quarta-feira (3), Lula visita o assentamento do MST "Lulão", no Município de Santa Cruz Cabrália, às 12h30.

“Como em 64, possivelmente alguns que estejam orgulhosos do que estão fazendo hoje, estejam também daqui a pouco com vergonha do que fizeram”, disse Lula. “Eles, da forma mais desavergonhada possível, juntaram uma maioria eventual, inventaram crimes que não existem, e pouco se importaram com a democracia, com a Constituição. Construíram a maioria, liderada pelo Eduardo Cunha, e resolveram começar o afastamento”, resgatou.

Lula enfatizou que o julgamento de “uma inocente, sem nenhuma razão, a não ser a vontade de assumir o poder” ameaça a democracia e coloca em risco os quase 14 anos de avanços sociais.

“Nós sabemos que teremos que convencer senadores. Como vocês não podem fazer protestos todos os dias, acho que temos que utilizar o celular da gente, para mandar mensagens todos os dias, todas as horas, lembrando esses senadores que eles não terão que prestar contas apenas para Dilma e para vocês, mas também para as consciências deles”, disse.