Vanessa Grazziotin mostra “a versão e o fato” no caminho do golpe 

Em artigo intitulado “Caminho do Golpe: A versão e o fato”, publicado no jornal Folha de S. Paulo, a senadora Vanessa Grazziotin denuncia o “malabarismo retórico” dos defensores do golpe para afastar do cargo máximo do país para o qual foi eleita por 54 milhões de votos a presidenta Dilma Rousseff.  

Dilma Rousseff - Foto: Antonio Arajo/Ministrio da Agricultura

“De uma coisa todos temos certeza: Dilma não está sendo afastada do governo por ter cometido qualquer crime de responsabilidade – mesmo porque os decretos e as tais pedaladas nem sequer podem ser tipificados como tal. A verdadeira razão é política, aguçada por motivação ideológica e preconceito machista”, avalia a senadora.

E faz uma relação com o governo do ex-presidente FHC que, a exemplo de Dilma Rousseff, enfrentou uma séria crise econômica e o tratamento reservado aos dois mandatários pelo Congresso Nacional. “Assim como Dilma, FHC também enfrentou uma forte crise econômica internacional que abalou a economia do país, mas teve um tratamento muito diferenciado por parte do Congresso Nacional. Em apenas seis meses aprovou todas as suas medidas, inclusive a CPMF. À Dilma, restaram a traição, as armações, a pauta bomba, cujo objetivo era assaltar o governo para abrir caminho à velha, derrotada e superada política neoliberal”, avalia a senadora.

Para a senadora, o que querem os golpistas é “destruir o legado de avanços políticos construído nos últimos 13 anos e mudar radicalmente o rumo da economia e da política; impedir que uma ideologia de centro-esquerda se viabilize como alternativa de poder e solapar a primeira mulher a presidir o Brasil, reforçando o estigma de que as mulheres devem ser apenas ‘belas, recatadas e do lar’”.

Os defensores do golpe se apegam ao chamado “conjunto da obra”. Alegam que Dilma governou de modo irresponsável, que teria feito uma verdadeira farra fiscal, levando o país à ruína financeira. Na prática, propõem um voto de desconfiança, que não se aplica ao presidencialismo.

E denuncia a falta de coerência dos golpistas ao apresentar os argumentos para justificar o impeachment: “Se um deficit primário de R$ 90 bilhões no governo Dilma era irresponsabilidade, é absolutamente normal aprovar um deficit de R$ 170 bilhões para o interino Michel Temer (PMDB).”

Em seguida faz um comparativo dos números do IBGE relativos ao Brasil real de 2016 e 2002 do governo de Fernando Henrique Cardoso que comprovam o “malabarismo retórico”, que não se sustenta quando confrontados com os dados apresentados.

O investimento estrangeiro direto foi de R$ 72 bilhões no governo Dilma (abril/2016), contra mirrados R$ 14 bilhões no de FHC (2002).

As reservas cambiais, mecanismo que garante nossa solidez financeira, saltaram de R$ 37 bilhões com FHC para R$ 376 bilhões com Dilma.

A taxa anual de inflação era 12,53% (2002) com FHC e 10,67% com Dilma (2015).

A taxa básica de juros era 19,1% na era FHC e 14% no governo Dilma.

Sobre a taxa de desemprego, em torno de 11,5% da população economicamente ativa estavam desempregados no fim do governo FHC, contra 9,28% no governo Dilma (abril/2016).

A senadora conclui que “se os indicadores macroeconômicos falam a favor de Dilma, os sociais são avassaladores: expansão das universidades públicas; 36 milhões de brasileiros saíram da situação de extrema pobreza; e o crescimento real de 76% do valor do salário mínimo”, enfatizando que o golpe não é apenas contra a presidenta Dilma, mas sobretudo contra os avanços conquistados pela população brasileira nos últimos 13 anos.