Com medo de 2018, PSDB ataca Meirelles e expõe racha no golpe

Mais que garantir o compromisso de Michel Temer com a pauta do PSDB de ajuste e corte de direitos sociais, o jantar de Michel Temer com tucanos, na última quarta (16), teve como centro as eleições. Os principais líderes da legenda foram ao interino para cobrar também que ele barre pretensões de Henrique Meirelles de chegar ao Planalto. Uma eventual candidatura do ministro da Fazenda tem aterrorizado os tucanos, que o acusam de fazer concessões nas medidas de austeridade, de olho em 2018.

Temer e Meirelles - Charles Sholl/Futura Press/Estadão Conteúdo

Explicitando o racha no ninho golpista, os dirigentes do PSDB pressionaram para que Meirelles restrinja sua atuação à economia. Para eles, o ministro tem flexibilizado algumas medidas duras e extremamente impopulares, por motivos eleitoreiros. Estaria em busca de se viabilizar como uma alternativa eleitoral fora dos quadros já manjados do PSDB e PMDB.

Nesse sentido, a cobrança tucana de que é preciso rigor na implementação do ajuste fiscal esconde – embora nem tanto – a intenção de também desgastar Meirelles. O discurso da preocupação com equilíbrio das contas cai por terra também ao se constatar que parlamentares do PSDB deram seu apoio às “benesses” que o presidente aprovou no Congresso.

Mas, se havia dúvidas sobre as desconfianças em relação ao titular da Fazenda, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) tratou de eliminá-las. “O ministro Meirelles tem todo nosso apoio e simpatia. Mas deixa o Meirelles cuidando da economia e deixa o núcleo político cuidando da política, sem deixar 2018 contaminar o ajuste que tem que ser feito”, cobrou Tasso, de acordo com O Globo.

O cenário ideal desenhado pelos tucanos previa que, após o golpe, o governo interino trataria de aplicar as medidas mais duras e impopulares do receituário neoliberal e, em 2018, eles próprios – sem o peso de serem os autores diretos de tais maldades – teriam o caminho livre para tentar voltar ao poder, em teoria, com uma economia já estabilizada. Por isso, líderes do partido têm feito reiteradas cobranças de que o próprio Temer deixe claro que não disputará a eleição.

O fato é que, vendo em Meirelles um possível adversário, o PSDB tem tratado de minar o seu trabalho, com críticas à condução da área econômica – não pelo seu caráter antipovo, antinacional e incapaz de retomar o crescimento, mas exatamente por consider que têm sido feitas muitas concessões. A atitude dos tucanos expõe a fragilidade da aliança construída para o golpe sobre a base do fisiologismo e dos interesses pessoais.

Os ataques se acentuaram após Meirelles voltar atrás e decidir modificar o texto do projeto de lei complementar 257/2016, que trata da renegociação da dívida dos Estados e do Distrito Federal. O governo abdicou da exigência de que os Estados não poderiam conceder reajustes salariais aos seus servidores por dois anos.

A insatisfação tucana – e consequente pressão por rigor num ajuste ‘doa a quem doer’ – permeia inclusive um documento divulgado pelo Instituto Teotônio Vilela, do PSDB. No texto, a entidade lamenta que o governo tenha tido que fazer concessões e defende que não podem mais haver recuos no ajuste fiscal. “É preciso fazer as escolhas que não são fáceis, mas são necessárias”, diz.

As críticas ao ministro têm gerado desconforto. O secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal, Moreira Franco, chegou a sair em defesa de Meirelles. Para ele, o colega é vítima de “manipulação eleitoral”.

“Os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula tiveram ministros fortes na área econômica. Já (José) Sarney e Dilma (Rousseff) tiveram ministros fracos. A experiência mostra que não é recomendável transformar o ministro da economia em vítima de manipulação eleitoral”, disse, de acordo com O Estado de S. Paulo. E completou: “Diante da gravidade da situação, é muito pouco recomendável qualquer tentativa de enfraquecimento do ministro Meirelles.”

O titular da Fazenda é filiado ao PSD de Gilberto Kassab e, como sinaliza Moreira Franco, tem acumulado poderes na sua pasta. Não apenas trouxe para seu domínio a Previdência Social com seu gradioso volume de recursos, como pressiona para que o Secretaria do Orçamento, hoje dentro do Ministério do Planejamento, também migre para seu superministério.